domingo, 29 de outubro de 2017

Organização sim, inspiração não



  Há mais de dois meses Zé Ricardo deixou o comando técnico do Flamengo e o colombiano Reinaldo Rueda assumiu seu lugar. O que mudou nesse tempo? Muito e pouco.

  O balanço do Flamengo no ano continua ruim, manteve a mesma posição no Brasileirão, foi derrotado na final da Copa do Brasil, mas continua vivo na Sulamericana, na qual terá partida decisiva contra o Fluminense no meio de semana.

  Antes de qualquer análise, é importante apresentar um fato indiscutível: desde que Rueda assumiu o Fla, os jogos são horríveis. Quando digo que os jogos são horríveis, não me refiro ao desempenho do time rubro-negro, mas à qualidade da partida mesmo. Até os jogos cheios de expectativa como os da semi-final e da final da Copa do Brasil foram simplesmente horrorosos. Como flamenguista, posso falar que não dormir enquanto assiste o time jogar virou um enorme desafio.

  Logo que chegou, Reinaldo foi elogiado por ter organizado o time melhor. Falou-se muito do fato de que ele mandou os laterais não avançarem e  que isso consertou o sistema defensivo. Bom, isso é verdade, mas também fez com que o ataque caísse muito de rendimento. Os quatro jogadores de ataque acabam tendo que resolver tudo sozinhos, algo complicadíssimo para jogadores que não vivem grande fase.

  Sobre esse ataque, Éverton vem sendo muito consistente na ponta esquerda, o jogador menos questionado do sistema ofensivo. Diego vive altos e baixos. Na ponta direita, Berrío, capaz de jogadas maravilhosas e outras bizarras, vinha sendo titular, mas se lesionou, e deu espaço para Éverton Ribeiro. Esse já mostrou no Cruzeiro que é um excelente jogador, entretanto no Fla fez muito pouco. O centroavante deveria ser Guerrero, que, quando joga, acrescenta muito, porém os jogos da seleção peruana e as lesões vem impedindo-o de atuar pelo time, dando espaço ao meio-campo Paquetá, obrigado a fazer uma função que não está acostumado.

  Como dito anteriormente, a ausência dos laterais no ataque, obriga esses quatro jogadores a resolverem tudo. Pouco produzem, as melhores jogadas saindo justamente quando o volante Arão aparece na área como elemento surpresa. No primeiro jogo da semi-final contra o Cruzeiro, por exemplo, as únicas jogadas criadas foram cabeceios de Willian. 

  Escrevi muitas vezes que o grande problema do Fla de Zé Ricardo era que os 11 onze jogadores não formavam um time, não havia aproximação. Os laterais se mandavam pra frente, assim como Arão. Com isso, os dois zagueiros e Márcio Araújo trocavam passes sem chegar à lugar algum. Mesmo assim, a equipe ainda conseguia fazer bons jogos, sendo a que mais finalizava e mais criava chances claras no Brasil, falhando na concretização.

  Rueda deixou o time mais organizado, consertou a defesa, muito por ter posto Juan como titular, fato que deve ser elogiado. Mas ainda não há identidade de time. Os jogadores ficam isolados, tentam jogadas individuais, mas só Éverton obtém sucesso nessas tentativas.

  Zé Ricardo errou em muitas coisas como comandante do rubro-negro carioca, principalmente na eliminação da Libertadores. Rueda veio de outro país e teve pouco tempo de trabalho, também foi prejudicado pela ausência contínua de Guerrero, por outro lado, tem a oportunidade de contar com um baita goleiro, Diego Alves, coisa que Zé não teve.

  A única coisa que tenho certeza é que, até agosto, eu gostava de assistir o Flamengo, os resultados muitas vezes não vinham, mas a equipe jogava bem. Agora, as partidas servem como sonífero para mim e, se isso não mudar logo, vou começar a perder as esperanças.

Pedro Werneck Brandão