quarta-feira, 6 de março de 2019

Duas faces de um Ney, igualmente, mídia


 Pedro Werneck Brandão



Fonte: Twitter/Mundo ESPN


O Paris Saint-Germainn foi eliminado de maneira inacreditável para o Manchester United, perdendo por 3x1 dentro de seu estádio. Em um jogo de falhas individuais gritantes de jogadores parisienses, bastou rolar algumas vezes a tela pelas principais redes sociais para identificar que o nome do ausente Neymar era mais falado do que dos 14 (contando os que entraram) atletas que de fato disputaram a partida pela equipe francesa.

Não é nenhuma novidade que o nome de Neymar seja citado frequentemente pela mídia. Um espirro da estrela brasileira vira notícia de urgência dentro da nossa imprensa. O apelido de “Neymídia” cai perfeitamente, não no sentido de que ele é “só mídia”, pelo contrário, é um craque absurdo dentro de campo e isso não pode ser discutido, mas sim por ter se tornado uma grande celebridade.

O ex-jogador e comentarista da Band, Neto, inclusive, falou exatamente isso durante a celebração do Carnaval, que Neymar havia se tornado uma celebridade, mais do que um jogador de futebol. E justamente o fato de Ney ter celebrado o Carnaval aqui no Brasil durante a última semana gerou muita polêmica.

Ainda se recuperando da lesão que o tirou dos últimos jogos do Paris, o atleta veio ao seu país de origem celebrar o Carnaval. A atitude já foi criticada por si só, mas um vídeo específico, que mostra o brasileiro dançando durante um desfile, piorou a situação. Muitos questionaram se a atitude era correta para alguém se recuperando de lesão e os mais fantasiosos até mesmo duvidaram da lesão do craque, acusando-o de fingimento e chamando-o de pipoqueiro. Essa teoria, convenhamos, não é nada crível.

Sinceramente, eu não sou médico, e não tenho como dar nenhuma opinião sobre o que Neymar podia ou não fazer no sentido de não atrapalhar sua recuperação. De todo jeito, o camisa 10 da nossa seleção ainda tinha o alívio do conforto vivido por sua equipe, sobrando no campeonato e tendo construído uma grande vantagem fora de casa na Champions League. Ele não poderia passar a imagem, então, de estar rindo à toa durante uma má fase de sua equipe.

Inexplicavelmente, porém, a eliminação do PSG parece ter dado uma falsa ideia de que a má fase da equipe francesa já existisse e o tom das críticas a celebração do Carnaval por parte de Ney aumentasse consideravelmente.

O comportamento de Neymar ao final do jogo, o qual assistia da beira do campo, atacando a arbitragem veemente também foi um prato de mão cheia para os haters o chamarem de mimado, o que não é nenhuma novidade.

O motivo desse texto, entretanto, é justamente questionar todas essas discussões nesse momento. O PSG acaba de sofrer uma eliminação V-E-R-G-O-N-H-O-S-A e só se fala de um jogador que não entrou em campo. Muito mais, inclusive, do que das falhas de Buffon e Kehrer e dos gols perdidos por Mbappé.

Se tudo isso me faz reafirmar a figura midiática que é Neymar, também me faz identificar fortemente uma mudança na imagem do brasileiro. Quando os críticos o chamavam insistentemente de “Neymídia” era justamente por acusarem-no de não ser um jogador tão qualificado quanto a mídia dizia, questionando o fato de ser extremamente enaltecido. Hoje a realidade parece ter mudado e a imprensa parece contribuir cada vez mais para a mudança da imagem de Neymar de herói para vilão.

Os fracassos do craque com a seleção brasileira aumentaram muito o número daqueles que simplesmente odeiam-no. A mídia, de maneira geral, percebeu isso e viu que conseguiria mais repercussão reforçando isso do que se colocando como defensora inquestionável do nosso melhor jogador.

O momento para tal mudança de postura não poderia ser mais oportuno: imagem de cai-cai na Copa do Mundo, lesões coincidindo com momentos importantes de suas equipes e grandes exibições de Mbappé, que criou o discurso ridículo de que Neymar saiu da sombra de Messi para entrar na do francês.

Hoje foi o dia mais fácil de identificar tal modificação pela repercussão da eliminação colocando Neymar em destaque de uma maneira bem diferente. Poucos anos atrás, o brasileiro seria igualmente destacado em situação parecida, mas provavelmente em algo como: “PSG sente ausência de Neymar e é derrotador pelo Manchester United”. Dessa vez, porém, o camisa 10 apareceu mais como a imagem de um PSG fracassado. A manchete abaixo da ESPN cai como uma luva na minha argumentação:



Talvez meu texto seja um pouco contraditório, escrevendo sobre Neymar e não sobre o jogo em si justamente para criticar a grande mídia esportiva por fazer o mesmo. Jogo esse que foi eletrizante, qualificado, e ofereceu tudo que o futebol tem de melhor a oferecer. Deixo como minha parte, porém, uma manchete mais justa para a partida de hoje: “Em jogo sensacional, United faz milagre nos acréscimos e elimina o PSG em pleno Parques dos Príncipes”.





quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Abel e a velha mentalidade do futebol brasileiro

 Pedro Werneck Brandão 



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Fonte: UOL Esporte

          O Flamengo perdeu para o Fluminense por 1x0 o jogo de ida da semifinal da Taça Guanabara. E perdeu porque quis. Nem o mais fanático torcedor tricolor acha que sua equipe é superior no papel à do rival rubro-negro, mas a superioridade não foi refletida dentro de campo. Longe disso.

 O Flu comandado por Fernando Diniz jogou para frente, foi aguerrido e não abriu mão do seu jogo de toque de bola. O Fla de Abel se defendeu completamente, esperando pelo contra-ataque, contando com a vantagem do empate. 

O jogo de hoje é mais uma entre tantas provas de que o futebol brasileiro não vai para frente por conta da mentalidade dos técnicos. Pouquíssimos tentam formar um time de verdade e que se propõe a jogar bola. Apesar de muitos erros e nenhum título, eu me orgulhava do Fla dos últimos 2/3 anos por ser um dos poucos que pelo menos tentava jogar, sempre tendo mais posse de bola e criando mais chances que o adversário. Agora, com Abel, nem disso posso me orgulhar.

Por outro lado, Fernando Diniz tenta trazer para o nosso futebol essa nova mentalidade, condizente com o que se é praticado nas melhores ligas do mundo. No Atlético-PR teve altos e baixos, saiu por baixo, mas deixou marcas reconhecidas por todos os atletas na conquista da Sulamericana.

O Brasil, um dia reconhecido pelo futebol bonito, hoje vai na contramão do resto mundo e insiste em treinadores que preferem “jogar por uma bola”. E essa já é uma mentalidade tão enraizada por aqui que as próprias conquistas nacionais não servem de parâmetro. Os defensores desse estilo de jogo usarão o título do Brasileirão de Felipão com o Palmeiras ano passado ou o de Carille com o Corinthians ano retrasado como justificativa, mas como se comparar se ninguém tenta o contrário?

Os times grandes raramente tentam apostar em alguém que dará uma nova cara, muito por medo de que dê errado. O resultado é uma liga mal jogada, com partidas tenebrosas, na qual o menos pior levanta a taça.

A crise do futebol brasileiro não passa pelos jogadores, e a prova está no desempenho ruim (e aqui diferencia-se desempenho de resultado) de equipes que contratam os grandes destaques locais como Flamengo, Cruzeiro e Palmeiras. Todas essas poderiam jogar muito mais.

O Flamengo com todas as suas peças se retrancar contra o Fluminense é vergonhoso. Pelos elencos atuais, levando em conta também os desfalques tricolores, seria o mesmo que o Manchester City se retrancar contra o Southampton, por exemplo.

Muitos continuam batendo na tecla de que é um orgulho o nível de equilíbrio do campeonato brasileiro, mas isso é mentira. O equilíbrio se deve ao fato de que os melhores times não conseguem se tornar realmente times, com identidade, buscando jogar o seu melhor.

A recusa ao bom futebol só apequena nossas equipes e certas frases corriqueiras por aqui também contribuem para isso. “Libertadores é raça acima de tudo”. Por mais importante que seja ter raça, a técnica vem em primeiro lugar e as equipes brasileiras não conseguem se sair bem nas competições continentais por puro medo de jogar bola. Ou a equipe do Talleres é realmente melhor que a do São Paulo?  “Clássico é clássico, não tem favoritismo”. É claro que tem, por mais que haja uma disputa intensa e todos deem o máximo, a melhor equipe deve se sobressair na bola. O Flamengo tem um time superior aos outros grandes do Rio há alguns anos, mas sempre abdica do bom futebol nos confrontos diretos.

Esse ano torcerei para o bom desempenho do Fluminense de Diniz. Reconhecendo as limitações da equipe, espero que faça um bom trabalho e ajude a mudar a mentalidade do nosso futebol. 
  

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Mais um Flacasso

Imagem retirada do site Flamengo RJ
  

  O roteiro desenhado pelo período que antecedeu o duelo da semi-final da Copa do Brasil entre Flamengo e Corinthians era de um Flamengo dominante enfrentando uma equipe frágil. Roteiro esse que fazia todo sentido, pelos jogadores de cada time e pelo desempenho no ano. 

  O primeiro jogo, porém, não se desenvolveu dessa forma. O Flamengo enfrentou um Corinthians retrancado, com uma proposta bem definida e que a cumpriu bem. O resultado de 0x0 era exatamente o que a equipe paulista queria para voltar para casa com uma situação favorável para aproveitar-se do fator torcida. 

  As estatísticas do jogo de ida (23 chutes a 4 e 74% de posse de bola do Fla) mostram um domínio flamenguista, apesar do resultado. Os números, porém, são mentirosos e demonstram uma situação recorrente no Flamengo 2018, uma equipe que fica com a bola, tenta, mas não consegue de fato dominar uma partida criando chances claras do início ao fim.

  O jogo de volta já mostra uma menor superioridade, o Fla é derrotado por 2x1 chutando apenas 10 vezes e tendo 56% de posse de bola. O primeiro gol corinthiano vem de falhas já conhecidas dos laterais flamenguistas. Pelo lado esquerdo, Trauco e Diego não se entenderam em relação a quem sairia para o combate, quem ficaria na cobertura, e deixaram Jadson livre para efetuar a inversão que alcançou Danilo Avelar absolutamente livre, por conta do mau posicionamento de Pará. 

  A intenção desse texto, porém, não é falar das falhas defensivas do Flamengo, mas sim da pouca produção ofensiva para os jogadores que o time tem. O meio-campo que começou a partida hoje com Cuéllar, Arão, que voltou a jogar bem nos últimos jogos, Éverton Ribeiro, Paquetá e Diego seria sonho de qualquer técnico brasileiro. 

  Mesmo com esse meio-campo de respeito, nenhum atacante rubro-negro consegue se consagrar. Dourado, artilheiro do último campeonato brasileiro, não consegue achar um espaço, sem estar em impedimento, para que o trio de meias criativo coloque uma enfiada de bola. 

  O problema vai mais longe do que a pouca eficiência dos centroavantes. O time parece não ter jogadas trabalhadas no ataque. É raro um momento de triangulação que funcione, algo que deveria ser recorrente com os jogadores que tem. 

  A impressão que fica é de um time flamenguista que acabou de ser criado. É possível observar que tem ótimos jogadores, mas eles parecem ainda não se encaixarem. A verdade é que a maioria já joga junto há muito tempo e o técnico já ocupa o cargo há alguns meses. Já o Corinthians, cujo treinador assumiu a equipe há 5 jogos, mostrou um plano de jogo bem definido e o executou com perfeição. 

  Se o time do Flamengo era realmente tão superior ao "frágil" Corinthians, como não conseguiu evidenciar nenhuma fraqueza do time paulista nos dois jogos? Já o Coringão, ao marcar seu primeiro gol, mostrou ciência da fragilidade dos laterais rubro-negros. 

  O ainda inexperiente Maurício Barbieri mostra tentativas de mudança tática pouco efetivas. No jogo de ida da Libertadores contra o Cruzeiro, começou com Vitinho de falso 9, mas o time acabou sendo uma confusão, cada hora um jogador ocupando a posição de centroavante sem eficiência. Agora contra o Corinthians resolveu colocar os 3 meias, Diego, Éverton e Paquetá para mudarem de posição constantemente, mas, ao invés de confundir o adversário, a decisão parece ter confundido o próprio Flamengo.


  Apesar de ter excelentes jogadores, o Fla parece ainda não se configurar como time. Por enquanto, fez o suficiente apenas para brigar pela liderança em um Campeonato Brasileiro em que os melhores times poupam seus principais jogadores em quase todas as rodadas. Agora disputando apenas essa competição, a obrigação é formar uma equipe bem definida, coisa que já deveria ter acontecido há muito tempo, mas que, por enquanto, só foi vista no jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil, contra o Grêmio.



Pedro Werneck Brandão



segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Racismo na NBA

Imagem: ESPN

O basquete nos Estados Unidos hoje é indiscutivelmente um esporte majoritariamente negro. Por mais que no início da criação da principal liga de basquete mundial, a NBA, grande parte dos jogadores e torcedores fossem brancos, essa situação foi mudando radicalmente ao longo da história. 

Isso pode ter ocorrido pelo fato de ser um esporte que não necessita de grandes materiais, apenas uma bola e uma cesta já permitem sua prática, e pode ser jogado como forma de diversão por qualquer número de pessoas, o que levou a uma rápida adoração por parte dos fãs nas periferias estadunidenses. Além disso, a altura é um dos requisitos, hoje muito menos que antes, para se jogar profissionalmente, e a população negra no país tem um percentual de pessoas altas maior. 

Esses fatores levaram hoje a uma NBA negra, mais de 80% dos jogadores são negros, além de cerca de 65% dos fãs, de acordo com o site Quora. O esporte com certeza foi essencial para a luta dessa população que sofre com o racismo nesse país desde seus primórdios, surgindo figuras negras extremamente representativas, que mostram um grande poder de superação, como o maior astro da liga LeBron James, que sempre faz questão de se posicionar acerca das lutas raciais. 

Mesmo assim, não são os negros que comandam o basquete estadunidense. Entre as 30 franquias que disputam a principal liga, apenas um dono majoritário é negro, o melhor jogador da história do esporte, Michael Jordan, dono do Charlotte Hornets. 

Além da diferença nos números, o próprio termo soa estranho. Draymond Green, um dos principais jogadores do Golden State Warriors, se posicionou sobre o assunto. Ele disse que não gosta dessa palavra e que os jogadores não pertencem a ninguém. Conhecido como um jogador emocionalmente instável, que facilmente se estressa dentro e fora de quadra, tais palavras foram vistas como exageradas. O dono da franquia Dallas Mavericks foi um dos que viu dessa forma e se envolveu em grande discussão com Green.

No começo, eu também vi aquilo como um exagero. Esses “donos” de fato compraram as franquias. Mas, parando para pensar, lembrando que quase 90% dos jogadores são negros, e essa população foi escravizada por tantos anos, dizer que eles pertencem a alguém não soa nada bem.

A problematização de Green ganha ainda mais força quando pensamos na maneira que os jogadores são tratados. Diferente de outros esportes, o jogador da NBA não tem poder de escolha em relação ao clube que jogará. No início do ano, os novos astros são escolhidos pelos clubes em um evento chamado draft. Durante o contrato dos mesmos, eles podem ser trocados para outra franquia se os donos quiserem, independente da opinião dos mesmos.

Tal política causou grande discussão no mês passado, quando dois dos principais jogadores da liga, DeMar DeRozan e Kawhi Leonard, foram trocados. Os dois declararam que não queriam ter ido para as franquias que foram, mas simplesmente não puderam escolher.

Os números de que 65% dos fãs da NBA são negros também é estranho quando olhamos a torcida nos estádios da NBA. A grande maioria é branca. Procurei pesquisas que pudessem comprovar isso, mas não consegui achar em lugar nenhum. Porém basta olhar para o público durante os jogos e tal situação fica evidente.

Por que mais gente branca do que negra nas arquibancadas se existem mais torcedores negros? Por conta do alto preço dos ingressos, que evidencia a discrepância do salário recebido entre negros e brancos nos Estados Unidos.

Essa discussão ainda precisa ganhar muito mais força, algo comprovado pela falta de pesquisas acerca de tal.  O basquete é dito como importantíssimo para a superação das diferenças raciais, e realmente é, mas continua evidenciando o racismo nos Estados Unidos. No final das contas, são pessoas brancas comandando jogadores negros, decidindo seus destinos, para que outras pessoas também brancas possam se entreter.

O famoso jornal “The Washington Post” fez um artigo chamado “Nas quadras da NBA, a minoria comanda”. Nele, a situação dos jogadores dentro da liga foi dita como oposta à do mercado de trabalho, com predominância negra e mais prestígio deles inclusive. O técnico do Golden State Warriors, Steve Kerr, fez questão de ressaltar que: “Ao mesmo tempo, nós estamos vivendo uma situação utópica, na qual todo mundo está bem financeiramente. E você não tem o mesmo tipo de competição racial que existe de sobra no mundo do trabalho”.



Pedro Werneck Brandão 

domingo, 27 de maio de 2018

A conta chegou, Klopp

Imagem retirada do site The Independent


  Futebol é talento. Toda e qualquer função dentro de campo exige uma capacidade técnica gigantesca, ainda mais em uma competição de alto nível. Porém não é só isso. O preparo psicológico é igualmente importante.
  
  Quando se trata de goleiros, diria que o psicológico é ainda mais importante. Existem muitos jogadores talentosíssimos nessa posição, mas os grandes são aqueles que tem confiança. Buffon, Casillas, Cech, Neuer, juntam seus reflexos e sua elasticidade com o fato de serem extremamente confiantes. 

  O alemão Loris Karius demonstrou esse talento pelo Mainz e, por isso, foi contratado pelo Liverpool no começo da temporada 2016/17. A camisa pesou e seu primeiro ano pelos Reds foi lamentável, voltando para o banco e assistindo o contestado Mignolet pegar sua vaga.

  A temporada 2017/18 começou e era dada como certa a chegada de um novo goleiro para o time de Anfield. Nomes como Alisson, Oblak e Horn foram citados. O torcedor, que não confiava nenhum pouco nos atuais goleiros, estava empolgado. A janela fechou e nada. Foi uma chuva de críticas em cima de Klopp.

  No começo da atual temporada, Mignolet e Karius disputavam posição, mas com o tempo o alemão foi assumindo a titularidade. Apesar de bons jogos, ainda aparentava uma falta de confiança. E como a confiança é importante para um goleiro! É a confiança que impede de hesitar em uma saída nos pés do atacante ou para tirar uma bola aérea, confiança que permite repor o jogo com precisão. 

  O Liverpool fez uma temporada espetacular e, surpreendentemente, chegou na final. Com isso, as críticas à decisão de Klopp de não contratar um goleiro foram deixadas de lado. Mas a conta iria chegar, e da maneira mais cruel possível. 

  Contestado por tanto tempo, Karius não era o goleiro para representar os Reds em uma final de Champions League. Da mesma forma que não era Ulreich para o Bayern, que fazia uma temporada tão boa, mas demonstrou fraqueza na semi final contra o Real Madrid. 

  Esse nervosismo levou Loris a não perceber a presença de Benzema na sua frente e acabar entregando a bola. A tirar a mão na bicicleta de Bale e apenas torcer para a redonda não entrar. A não saber se espalmava ou segurava o chute do galês e falhar bisonhamente. 

  A experiência, e até mesmo as falhas de ontem, podem ajudá-lo a entender a importância de entrar confiante no jogo. Para o Liverpool, fica a lição de contar com nomes mais experientes e consolidados. 

  Não é o fim de uma carreira, apenas uma baixa em uma trajetória que pode vir a ser muito vitoriosa.



  Pedro Werneck Brandão

domingo, 14 de janeiro de 2018

Ninguém é invencível



Imagem retirada do Twitter oficial do Liverpool
  

  Assim que começava o confronto entre Liverpool e Manchester City, falei que seria 4x4. Errei por um gol. 4x3 para o time de Anfield. Mas não foi a toa que chutei um placar com tantos gols.

  No livro "Guardiola Confidencial", do jornalista peruano Marti Perarnau, em determinado trecho o treinador espanhol, ainda quando treinava o Baryern, revela sua metodologia em relação à pressão alta: "Faremos essa pressão poucas vezes na temporada, contra times como o Barça e alguns outros. O restante das equipes, na terceira vez que pressionarmos a saída, passará a dar chutões. Vamos receber a bola de presente e ter que trabalhar outros aspectos para evitar os contra-ataques e o perigo da segunda bola". Para quem gosta de pressionar o adversário, é fato que o Manchester City de hoje é um dos times que necessita receber essa pressão constante, e foi o que Klopp fez com seu Liverpool.

  E essa pressão alta que tanto Klopp quanto Guardiola gostam tanto foi a chave do jogo de hoje. Na época do Barcelona, mesmo que o adversário pressionasse muito, era difícil o time de Pep perder a bola. Por mais que o Manchester City de hoje talvez jogue o melhor futebol da Europa, é impossível comparar Stones com Piqué ou Fernandinho com Busquets. 

  O time do Liverpool, por sua vez, tem uma defesa extremamente insegura, que leva dificuldade contra times eficientes no ataque. O recém-chegado Van Dijk, zagueiro mais caro da história, planeja consertar esse problema, mas hoje não pôde jogar por conta de uma lesão. 

  O jogo começou como esperado, os dois times pressionando muito. Aos 8 minutos, Firmino ficou com a bola na dividida e tocou para Chamberlain, que avançou e chutou muito bem no canto para abrir o placar. Aos 40 minutos, foi Sané quem pegou a bola, fez grande jogada e bateu forte no canto do goleiro Karius para empatar o jogo. A primeira etapa não foi tão agitada, as equipes foram intensas, mas não provocaram tantos erros do adversário.

  O segundo tempo já foi diferente. O Liverpool começou a apertar mais ainda, aproveitando a velocidade e vontade do trio de ataque Mané, Salah e Firmino. Aos 13 minutos, Chamberlain avançou com a bola e tocou para Firmino, que ganhou de Stones na dividida e com muita categoria marcou de cobertura. 3 minutos depois, Otamendi foi tentar sair jogando e perdeu para Salah, que rolou para Mané mandar um balaço de canhota na gaveta. E apenas 6 minutos depois veio o quarto gol, dessa vez o goleiro Ederson saiu bem do gol, mas na hora de afastar entregou nos pés de Salah, que chutou de muito longe aproveitando o gol vazio. Três golaços.

  O jogo parecia definido. O Liverpool continuava provocando erros em sequência do City, ora com Fernandinho, ora Danilo, ora Walker. Aos 79, Klopp fez uma substituição esquisita, tirou Emre Can, jogador que mais desarma no Liverpool, responsável por impedir a bola do City de rodar na entrada da área para colocar James Milner. 

  Aos 84, o Manchester City entrou tabelando, a bola sobrou para Bernardo Silva, que havia substituído Sterling há pouco tempo, marcar o segundo do time de azul. Aos 88, outra substituição estranha nos Reds, saindo Salah, o jogador mais qualificado para tentar segurar a bola, para entrada de Lallana. Aos 91, Agüero cruzou, Gundogan dominou bonito e mandou pro gol. Final do jogo: 4x3 para o Liverpool.

  Esse resultado acabou com a invencibilidade do Manchester City, que até então tinha 20 vitórias e 2 empates no campeonato. Klopp mostrou que é mesmo especialista em pressão alta e fez Guardiola provar do seu próprio veneno quanto enfrenta grandes times. O problema é que, apesar de fazerem boas temporadas, Danilo, Stones, Otamendi e Fernandinho não são exímios passadores e cometeram o tipo de erro que mais irrita o treinador espanhol.

  Por outro lado, a equipe de Manchester não precisou de muito para quase conseguir o empate no final do jogo. Em poucas chegadas dentro da área, a defesa dos Reds já mostrou insegurança e deu liberdade para o adversário marcar. Além disso, não seria a primeira vez, longe disso, que o Liverpool não conseguiria segurar uma larga vantagem. É preciso repensar essa estratégia para segurar o jogo. Faltam jogadores de cadência no elenco? Faltam marcadores? O problema é excesso de confiança?

  A lição que fica para os adversários do Manchester City tanto na Premier League quanto na Champions League é que não adianta só se retrancar, é preciso pressionar na frente, pois o time pode não ser tão qualificado quanto esperado. Já o Liverpool continua cometendo os antigos erros, mas mostrou que, mesmo sem Phlippe Coutinho, pode ir longe na temporada com seu ataque extremamente veloz.



Pedro Werneck Brandão

domingo, 7 de janeiro de 2018

Despedida dolorosa

  Imagem retirada do site Independent.ie


  Meu irmão sempre gostou muito do Liverpool, então sempre que me perguntavam para que time eu torcia na Europa, eu respondia prontamente que eram os Reds. Mas foi apenas na temporada 2013/2014 que eu passei a torcer de verdade para o time inglês. Minha torcida coincidiu com a chegada de Phlippe Coutinho. 

  O time daquela temporada era espetacular. Eu não perdia um jogo sequer. Gerrard, capitão e maior ídolo do clube, jogando no meio com um quarteto ofensivo formado por Sterling, Coutinho, Sturridge e Suárez. Aprendi a cantar a música do Liverpool "You´ll never walk alone" e passei a entoar junto com a torcida antes dos jogos no Anfield, sempre ficando completamente arrepiado. Coisas do futebol, os Reds perderam aquele título praticamente certo.

  Ofuscado por um ano absurdo de Suárez e Sturridge, a torcida de cara gostou de Coutinho, mas ainda não era totalmente valorizado. Mas eu desde o começo já o achava um craque. O estilo de jogo dele valoriza tudo que admiro dentro do futebol: o drible, o toque de bola e o chute de fora da área.

  Me chamavam de maluco por dizer que ele jogava muito, por pedir ele na seleção desde aquela época, por falar que ele era mil vezes melhor que Oscar, William e Douglas Costa. Mas eu continuei repetindo o mesmo, e sabia que as pessoas não sabiam o tamanho do futebol dele, porque não assistiam os jogos. E hoje que todos valorizam ele, faço questão de falar "eu avisei" para cada um que discordou de mim e não viu o potencial do brasileiro.

  Na temporada 2014/2015, Suárez deixou o Liverpool rumo ao Barcelona e Sturridge sofreu muito com lesões. Comandado por Brendan Rodgers, o time foi muito mal na Champions, eliminado na fase de grupos. Mas em um time desorganizado e com poucos craques, o "Pequeno Mágico" começou a ganhar protagonismo.

  Porém foi na temporada seguinte que Coutinho, com a venda de Sterling e a aposentadoria de Gerrard, passou a carregar o time nas costas. Também se especializou em chutes de fora da área e cobranças de falta, sendo que no início da carreira tinha no chute uma de suas fraquezas. 

  E carregando o time nas costas, Coutinho não fez feio. Levou o time até a final da Europa League, na qual perdeu para o Sevilla. Nas oitavas, o time se classificou com um golaço decisivo do brasileiro contra o rival Manchester United. Nas quartas, eliminou o Borussia Dortmund virando um jogo de 3x1 para 4x3, em uma das melhores partidas que assisti na vida, um dos gols sendo marcado por ele. Na semi, passaram com facilidade pelo Villarreal. Pelo campeonato inglês, os Reds não conseguiram a classificação para a Champions League.

  Com Klopp já adaptado, o Liverpool teve uma temporada 2016/2017 muito consistente. O time ficou em quarto na Premier League e voltou à Champions. Apesar de sofrer com lesões, Coutinho obteve excelentes números, 13 gols e 7 assistências em 28 jogos.

  E chegamos à atual temporada. Com o time fortalecido, começou muito bem o campeonato inglês e passou pela fase de grupos da Champions com facilidade. Devido às lesões de Henderson e Milner quase sempre no banco, Coutinho ganhou o posto de capitão do time. Passou a ter definição completa de craque do time: "dez e braçadeira". Vinha tendo os melhores números da carreira, somando todas as competições, já eram 15 gols e 8 assistências em 23 jogos, uma participação direta por jogo.

  Em qualquer âmbito, sempre achei meio bobo essa idolatria por uma pessoa famosa. Fosse cantor(a), jogador(a) ou qualquer outra coisa. Mas depois de Coutinho, passei a ver isso de maneira diferente. Pelo futebol bonito, pela minha identificação com o jeito dele, discreto. Tudo contribuiu para que eu me tornasse mais do que fã dele. E fica mais fácil quando ele joga no time que você torce.

  Entendo a decisão dele de ir para o Barça, a maior possibilidade de ganhar títulos, a parceria com Messi e Suárez, esse segundo já amigo dele. Além disso, como ele ainda tem 25 anos, pode passar a ser o craque da equipe e quem sabe até melhor do mundo depois que esses dois craques ficarem mais velhos. Por outro lado, acho que poderia ter esperado até o final da temporada, já que não poderá jogar a Champions pelos catalães, por já ter disputado jogos com o Liverpool, e o título espanhol já estar praticamente garantido. Ficando na Inglaterra, poderia, quem sabe, fazer história dentro da competição européia sendo a estrela do time.

  Continuarei torcendo pelo Liverpool. Continuarei torcendo pelo sucesso de Coutinho. Mas não será a mesma coisa agora que essas duas torcidas estão separadas. Nunca imaginei que ficaria triste com uma transferência no futebol, mas fiquei, e muito.



Pedro Werneck Brandão