terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Furacão

Imagem retirada do site The Sun


  Harry Kane, conhecido pelos torcedores como Hurricane, em português, furacão, está jogando cada vez mais bola. Terminou o ano batendo um recorde atrás do outro. Com um hat-trick no jogo de hoje contra o Southampton, Kane se tornou o jogador com mais gols em um ano por jogos do Campeonato Inglês na história (39), o jogador com mais hat-tricks em um ano pelo Campeonato Inglês (6) e o artilheiro do futebol no ano (56 gols).

  O mais impressionante é que Harry bateu todos esses recordes no ano tendo sofrido uma lesão que o tirou dos gramados por quase dois meses. Com um número de jogos menor, ele superou grandes artilheiros, como Messi, Cavani, Lewandowski e Cristiano Ronaldo.

  O atacante inglês já foi artilheiro das duas últimas edições da Premier League e lidera a corrida pela artilharia desta temporada mais uma vez, com 18. Não podemos prever o que acontecerá na segunda metade da temporada, mas mantendo essa média ele pode ultrapassar o recorde de Alan Shearer de mais gols em um campeonato (34).

  "Hurricane" é um finalizador nato, chuta de longe e de perto, é destro, mas também usa muito bem a canhota, tem recurso de sobra. E não só de gols vive ele! O inglês sai da área, protege muito bem a bola e dá passes sensacionais, incluindo alguns lançamentos dificílimos. Os mais atentos já perceberam inclusive o quanto ele tem ficado mais rápido, e não é à toa, o atacante tem feito treinos específicos para isso.

  Na carreira, Kane tem 171 jogos, 111 gols e 18 assistências. Os números por si só já são impressionantes, mas agora lembrem que ele ainda tem 24 anos e só passou a ser titular e jogar regularmente na temporada 2014/2015, 

  Beckham, Owen, Lampard, Gerrard, Rooney. Todos esses nomes nos últimos anos criaram muita expectativa em relação à seleção inglesa. Nenhum conseguiu muita coisa. Mas acho que Kane está mais preparado do que todos eles já estiveram para comandar a seleção e tentar fazer algo diferente na Copa da Rússia. 

  Suárez e Lewandowski me perdoem, mas Harry Kane já é o melhor centroavante do mundo.


  Pedro Werneck Brandão 

domingo, 29 de outubro de 2017

Organização sim, inspiração não



  Há mais de dois meses Zé Ricardo deixou o comando técnico do Flamengo e o colombiano Reinaldo Rueda assumiu seu lugar. O que mudou nesse tempo? Muito e pouco.

  O balanço do Flamengo no ano continua ruim, manteve a mesma posição no Brasileirão, foi derrotado na final da Copa do Brasil, mas continua vivo na Sulamericana, na qual terá partida decisiva contra o Fluminense no meio de semana.

  Antes de qualquer análise, é importante apresentar um fato indiscutível: desde que Rueda assumiu o Fla, os jogos são horríveis. Quando digo que os jogos são horríveis, não me refiro ao desempenho do time rubro-negro, mas à qualidade da partida mesmo. Até os jogos cheios de expectativa como os da semi-final e da final da Copa do Brasil foram simplesmente horrorosos. Como flamenguista, posso falar que não dormir enquanto assiste o time jogar virou um enorme desafio.

  Logo que chegou, Reinaldo foi elogiado por ter organizado o time melhor. Falou-se muito do fato de que ele mandou os laterais não avançarem e  que isso consertou o sistema defensivo. Bom, isso é verdade, mas também fez com que o ataque caísse muito de rendimento. Os quatro jogadores de ataque acabam tendo que resolver tudo sozinhos, algo complicadíssimo para jogadores que não vivem grande fase.

  Sobre esse ataque, Éverton vem sendo muito consistente na ponta esquerda, o jogador menos questionado do sistema ofensivo. Diego vive altos e baixos. Na ponta direita, Berrío, capaz de jogadas maravilhosas e outras bizarras, vinha sendo titular, mas se lesionou, e deu espaço para Éverton Ribeiro. Esse já mostrou no Cruzeiro que é um excelente jogador, entretanto no Fla fez muito pouco. O centroavante deveria ser Guerrero, que, quando joga, acrescenta muito, porém os jogos da seleção peruana e as lesões vem impedindo-o de atuar pelo time, dando espaço ao meio-campo Paquetá, obrigado a fazer uma função que não está acostumado.

  Como dito anteriormente, a ausência dos laterais no ataque, obriga esses quatro jogadores a resolverem tudo. Pouco produzem, as melhores jogadas saindo justamente quando o volante Arão aparece na área como elemento surpresa. No primeiro jogo da semi-final contra o Cruzeiro, por exemplo, as únicas jogadas criadas foram cabeceios de Willian. 

  Escrevi muitas vezes que o grande problema do Fla de Zé Ricardo era que os 11 onze jogadores não formavam um time, não havia aproximação. Os laterais se mandavam pra frente, assim como Arão. Com isso, os dois zagueiros e Márcio Araújo trocavam passes sem chegar à lugar algum. Mesmo assim, a equipe ainda conseguia fazer bons jogos, sendo a que mais finalizava e mais criava chances claras no Brasil, falhando na concretização.

  Rueda deixou o time mais organizado, consertou a defesa, muito por ter posto Juan como titular, fato que deve ser elogiado. Mas ainda não há identidade de time. Os jogadores ficam isolados, tentam jogadas individuais, mas só Éverton obtém sucesso nessas tentativas.

  Zé Ricardo errou em muitas coisas como comandante do rubro-negro carioca, principalmente na eliminação da Libertadores. Rueda veio de outro país e teve pouco tempo de trabalho, também foi prejudicado pela ausência contínua de Guerrero, por outro lado, tem a oportunidade de contar com um baita goleiro, Diego Alves, coisa que Zé não teve.

  A única coisa que tenho certeza é que, até agosto, eu gostava de assistir o Flamengo, os resultados muitas vezes não vinham, mas a equipe jogava bem. Agora, as partidas servem como sonífero para mim e, se isso não mudar logo, vou começar a perder as esperanças.

Pedro Werneck Brandão

    

segunda-feira, 26 de junho de 2017

As diferenças entre Flamengo e Corinthians

Imagens retiradas dos sites Torcedores.com e Globoesporte
  
  No começo do ano, ninguém diria que o time do Corinthians era melhor que o do Flamengo. Todos apostariam na equipe carioca muito mais favorita do que a paulista. Ainda hoje, se perguntar apenas qual elenco é melhor, sem levar em conta os resultados, é impossível não dizer que o rubro-negro é superior. 

  Dentro de campo, isso não está acontecendo. O Corinthians lidera o campeonato, com incríveis 87% de aproveitamento. O Fla também vai bem, está em terceiro (cai para quarto se o Botafogo derrotar o Avaí ainda hoje). Mesmo as posições sendo próximas, o Timão está 9 pontos à frente do Urubu.

  Só passaram-se dez rodadas, é verdade, mas meu principal objetivo é analisar como esses dois times são o oposto um do outro. O time paulista tem um elenco com poucas estrelas, porém taticamente perfeito. O Fla é o contrário. Por que isso?

  Começando pelo trabalho corintiano, o time foi apontado no começo do ano como a quarta força de São Paulo. Algumas das contratações foram questionadas, principalmente se comparadas com as de equipes como o Palmeiras e o próprio Flamengo. Mesmo com todas as limitações, montou um elenco equilibrado, pouco badalado, mas com ótimas opções. 

  A escolha para o comando técnico também foi muito questionada. Fábio Carille, auxiliar de Mano Menezes e Tite nos últimos anos, já tinha tido uma chance ano passado, mas foi rapidamente demitido. Esse ano, recebeu mais uma chance e está aproveitando completamente. 

  Eu mesmo critiquei um pouco essa escolha de técnico, mas ela foi totalmente adequada e condizente com os trabalhos recentes. Na Europa, é cultura os clubes terem uma filosofia de trabalho, por exemplo, o Barcelona desde as categorias de base implementa um futebol de posse de bola e ofensivo. No Brasil, isso é uma raridade e dificulta muito os clubes. O Corinthians vem sendo uma exceção, porém quase jogou isso água a baixo ano passado ao contratar Cristóvão Borges e Oswaldo de Oliveira. 

  De 2008 a 2010, Mano Menezes, auxiliado pelo Fábio Carille, fez um bom trabalho no Corinthians. Na sequência, Tite, que tem características parecidas (e muito mais qualidade, é verdade), assumiu o comando e conquistou a Libertadores e o Mundial. O treinador saiu em 2013, mas em 2014 voltou e ainda conquistou um Brasileirão antes de deixar o clube para assumir a seleção brasileira. 

  O sucesso desses treinadores tem muito a ver com o estilo de jogo. Um futebol muito tático, o time bem fechado na hora de marcar e saindo no contra-ataque com trocas de passes intensas. Mano já fazia isso, e Tite elevou esse futebol a outro nível. Ninguém melhor que Carille, que trabalhou com os dois, para assumir o Timão.

  O Corinthians começa a temporada lembrando muito o time campeão com Tite. Mérito também da diretoria por já ter contratado jogadores adequados para esse esquema. O esquema é o mesmo e a função executada pelo jogador de cada posição também. Cássio voltou a se destacar no gol, Fágner convocado para seleção na lateral direita, Arana líder de assistências na lateral esquerda, Pablo o grande destaque dessa defesa, ao lado de Balbuena, que foi de questionado para seguro.  Gabriel um leão no meio-campo, ao lado de Maycon, perfeito na transição defesa-ataque e Rodriguinho, grande destaque do time. Jádson, não tão decisivo quanto em 2015, mas ainda assim dando muita qualidade, Romero, jogador questionado, mas taticamente perfeito, e Jô fazendo uma temporada espetacular no comando de ataque.

  O Flamengo tem um elenco muito superior. Só para frente tem jogadores como Éverton, Diego, Guerrero, Berrío, Vinicius Jr., Ederson e Conca, além dos recém-chegados Geuvânio e Éverton Ribeiro. Rhodolfo também chegou para reforçar a zaga. As opções são muitas, e o time tem tudo para crescer.

  A questão maior aqui é que, mesmo com tanta qualidade, o Flamengo não tem a identidade de time do Corinthians. O time paulista é coletivo, visto realmente como um time. Já o Fla, são 11 jogadores. Gosto do estilo de jogo praticado pelo Zé, posse de bola, jogadores adiantados, e por isso defendo muito sua permanência, mas ele precisa urgentemente mudar algumas coisas.

  Hoje o time do Fla depende de momentos decisivos dos principais jogadores, que agora não são poucos, é verdade. Por isso, mesmo não jogando o futebol ideal, ainda pode brigar por títulos. Agora, se essa equipe se ajeitar e o Zé conseguir juntar as peças da maneira certa, pode virar uma máquina.

  Como fazer isso? Lendo uma biografia do Guardiola, estava vendo que ele bate muito na tecla dos jogadores terem uma ideia de time, o que significa progredir e regredir igualmente, algo que o Corinthians de Carille faz. Já o Flamengo faz o oposto.

  As escolhas do Zé para começar jogando não são ruins, muitas vezes até concordo, outras não, mas é mais questão de opinião. O problema é a organização em campo. Na hora de sair jogando, o treinador pratica algo comum em vários times europeus, coloca um volante (normalmente Márcio Araújo) entre os zagueiros e adianta os laterais. O problema é 1) ele adianta muito os laterais, que viram pontas, e simplesmente não ajudam na saída de bola. 2) Normalmente, quando isso é feito lá fora, dois meias ficam a frente desse trio de zagueiros, mas Diego joga muito adiantado e Arão, ou fica atrás, mas erra todos os passes, ou então se manda pra frente como um segundo atacante. Resultado? Um buraco no meio-campo, fazendo Márcio Araújo errar passes bobos, Vaz tentar dar chutão o tempo todo e Réver sair driblando feito um maluco.

  Se ele gosta dessa ideia de ter três zagueiros quando tem a posse de bola, tudo bem, mas tem que mudar a forma de executá-la. Trocar o Márcio Araújo pelo Rômulo, porque, apesar de eu achar que MA tem muitos méritos, ele não sabe fazer essa função. Esses zagueiros devem ter gente perto para auxiliar na armação, ou seja, fazer uma linha de quatro com os laterais, Diego e Arão (que eu ainda trocaria por Cuellar ou até o garoto Ronaldo). Um pouco a frente, estariam os dois pontas e Guerrero. Com isso, todos os setores poderiam avançar ao mesmo tempo e ninguém ficaria sozinho tendo que se virar, algo muito constante nos jogos do rubro-negro. Na falta de volantes de qualidade, nos jogos mais fáceis dentro de casa, ele também pode ousar e trocar Arão por Conca, botando o argentino ao lado de Diego.

  Tudo pode acontecer até o final do campeonato. Talvez o Corinthians não termine tão bem, talvez o Flamengo seja campeão. Mas, por enquanto, o Timão deixa de lição que pode valer mais um elenco pouco abalado, mas com uma cara bem definida do que um estrelado, mas mal organizado. O Fla vem de duas vitórias, uma muito boa contra a Chape inclusive, porém pode render mais, só que o próprio Zé Ricardo precisa acreditar nisso.


Pedro Werneck Brandão

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Análise de confrontos: Quartas de final Copa do Brasil

 Saiu nessa segunda-feira (05/06) a definição dos confrontos das quartas de final a Copa do Brasil, após sorteio realizado pela CBF. Vamos olhar como ficou e o que esperar de cada partida:



Flamengo x Santos

Imagem retirada do site Portal Bragança News

  Esse confronto de dois gigantes e dois dos melhores elencos do país teria tudo para ser fantástico, mas os dois times não vem jogando tudo que podem. O Flamengo vem em uma fase melhor, apesar de falhas em vários aspectos e a sofrida eliminação na Libertadores. Já o Santos, passou tranquilo na Liberta, mas começou o Brasileiro mal e demitiu o técnico Dorival Júnior. Meu palpite é que passa o Fla, que ainda poderá ter os reforços de Éverton Ribeiro, Geuvânio e Rhodolfo, além do retorno de Conca e Diego. O Santos deve ser muito prejudicado pela troca de técnico, pelo menos no primeiro momento.



Botafogo x Atlético-MG

Imagem retirada do site BlogMasterTV

  Esse também será outro confronto muito equilibrado. Time por time, elenco por elenco, o Galo é bem superior. Dentro de campo, essa superioridade não vem sendo tão clara. Os dois times passaram com tranquilidade da fase de grupos da Libertadores. A tendência é ver a equipe mineira atacando mais e a carioca contra-atacando, uma arma poderosíssima do Glorioso. O botafoguense também pode usar o retrospecto positivo contra o Atlético nos últimos anos para se tranquilizar.



Grêmio x Atlético-PR

Imagem retirada do site Jornalheiros

  Esse talvez seja o confronto mais fácil de identificar um favorito. O Grêmio é o time que joga o melhor futebol do Brasil no momento. O time gaúcho se classificou na Libertadores, começou o Brasileirão muito bem e passou muito tranquilamente do Flu na última fase da Copa do Brasil. Apesar do mau momento, o Furacão pode dar muito trabalho à equipe gremista.  O Imortal é favorito, mas tudo pode acontecer.



Cruzeiro x Palmeiras

Imagem retirada do site Cultura Mix

  Esse confronto também envolve dois dos melhores elencos do país. O Cruzeiro tem como vantagem não ter disputado a Libertadores e nem vir a disputar no futuro, ou seja, pode ter um elenco mais inteiro fisicamente. Por outro lado, a equipe mineira vem decepcionando bastante e apresentando um futebol longe de ser condizente com o ótimo time. O Palmeiras também não vem mostrando tudo que pode, mas acho que ainda dará a volta por cima.



Pedro Werneck Brandão

sábado, 3 de junho de 2017

12 títulos e vários segredos

Imagem retirada do site El País


  O jogo mais esperado do ano chegou. Final da Champions League, jogo em que toda uma temporada se resume, a partida que reúne o melhor do esporte mais amado do mundo. Mais de 1 bilhão de espectadores ao redor de 200 países.

  Não há como contestar os participantes dessa final. Juventus, campeã do campeonato e da copa italiana. Apenas dois gols sofridos antes da final e nenhum deles na fase de mata-mata. Real Madrid superou o Barcelona e ganhou o campeonato espanhol, marcando gol em TODOS os jogos da temporada. 

  Os dois times chegaram em Cardiff tendo como principal característica a objetividade. Não são os times mais interessantes de se assistir, mas tem um plano de jogo muito bem definido e assim superaram todos os times que apareceram na frente.

  A Juve se consolidou como a melhor defesa da Europa, alternando o esquema com três ou dois zagueiros. Allegri também teve outras ideias surpreendentes que deram muito certo, como ao colocar o centroavante de área Mandzukic para jogar na ponta esquerda. O ataque também se saiu bem, sem precisar de muitas oportunidades para marcar gol, contando com a criatividade de Dybala e o oportunismo de Higuaín.

  O Real também teve uma defesa muito sólida, liderada pelo capitão Sergio Ramos. No ataque, também não precisa de tantas oportunidades para marcar, tendo um transição defesa-meio-ataque rápida e de muita qualidade.

  Os times repetiram na final a escalação mais usual ao longo da temporada. Os italianos com Buffon (para muitos, o melhor goleiro do século); Barzagli, Bonucci e Chiellini (três dos melhores zagueiros do mundo); Dani Alves (fazendo a temporada de maior destaque da carreira), Khedira (marcador impecável), Pjanic (passador preciso) e Alex Sandro (cresceu muito defensivamente e ofensivamente); Dybala (o mais técnico), Mandzukic (ajudando também na defesa) e Higuaín (o matador).

 Os espanhóis com Keylor Navas (ótimo goleiro, apesar de ter caído um pouco de produção); Carvajal (se firmando como um dos melhores da posição), Varane (zagueiro extremamente regular), Sergio Ramos (o líder) e Marcelo (fez outra temporada espetacular); Casemiro, Modric e Kroos (o melhor meio-campo do mundo disparado) e Isco (foi de jogador de elenco para titular incontestável durante a temporada); Cristiano Ronaldo (o craque) e Benzema (importantíssimo).

  Muitos fatores podem ser colocados, mas é a emoção que dita o ritmo de uma final desse porte. Assim foi nos últimos anos e sempre tende a ser. Por isso, é possível observar os times mais cautelosos, receosos de deixar espaços na defesa. 

  Essa cautela típica de final e as características das duas equipes marcaram bem os primeiros minutos de jogo. Até então, a Juve era superior, mas parecia fazer parte do plano madrilenho deixá-los com maior posse de bola. O time italiano fazia algo que começa a ser tendência no Velho Continente, três zagueiros quando o time tem a bola para ajudar na saída e linha de quatro no momento defensivo. Essa mudança se dava com Bonucci (no primeiro tempo) e Barzagli (no segundo tempo) fazendo a lateral-direita, com Chielini e um dos companheiros na zaga e Alex Sandro na esquerda. Daniel Alves ficava como ponta direita, voltando bastante, assim como Mandzukic, na hora de defender.

  A tática da Velha Senhora tinha tudo para ir por água baixo quando Cristiano Ronaldo abriu o placar aos 19 minutos. O atacante tabelou com Carvajal, que devolveu para trás na medida para ele mandar de primeira pro gol (ah se os laterais no Brasileirão fizessem isso ao invés de jogar a bola pra área sem olhar). Para felicidade de Allegri, Mandzukic empatou aos 26 com um gol daqueles, um golaço que vai ser repetido muitas vezes durante a semana. O croata acertou um voleio/bicicleta sensacional da entrada da área.

  O empate de volta ao placar também fez a cautela do começo do jogo voltar, o jogo ficando mais morno ainda até o fim do primeiro tempo. No segundo, o Real resolveu manter mais a posse de bola e deixar a Juve encurralada no campo defensivo. Aos 15, veio o gol do Real em um momento crucial da partida, Casemiro arriscou de muito longe, a bola desviou em Khedira e morreu nas redes. Logo depois, de novo aos 19, Ronaldo ampliou, se infiltrando entre os defensores, após cruzamento de Modric.

  Os dois gols de diferença a favor do Real Madrid acabaram com o jogo da Juve, pois os espanhóis são os melhores em cozinhar o jogo atualmente. Sempre que tiveram a vantagem, souberam administrar, pois sabem manter a bola, se defender bem e também têm um contra-ataque mortal.

  Na tentativa de ir pra cima, Allegri colocou Cuadrado, ponta direita, no lugar de Barzagli. Aos 26, o colombiano tomou cartão amarelo. Aos 38, encostou em Sergio Ramos, o espanhol valorizou absurdamente, originando o segundo amarelo do jogador da Juve e, consequentemente, o vermelho. A missão já fácil do Real ficou mais ainda.

  Para fechar a conta, já nos últimos minutos, Marcelo fez grande jogada e tocou para Asensio, que havia acabado de entrar, marcar (repito, ah se os laterais no Brasileirão fizessem isso ao invés de jogar a bola pra área sem olhar).

  A Juventus poderia ganhar, torci para isso inclusive. O motivo da minha torcida se deu, principalmente, para Buffon ganhar o título que falta em sua gloriosa carreira. Mas deu a lógica, e isso é inegável. O Real Madrid é o melhor time da Europa e mereceu demais seu décimo segundo título. O trio MSN é mais genial que o ataque madridista, mas como time, como conjunto, a equipe da capital espanhola está muito na frente de qualquer uma.

  Além de um plantel tão bom, o comandante dos campeões também é genial. Os méritos de Zizou não são poucos. Pode-se destacar o fato de ter usado todo o elenco para que os titulares pudessem chegar nessa final descansados. Outro grande destaque foi a mudança no futebol do Isco, jogador antes pouco objetivo e que jogou demais essa temporada. O meia assumiu a posição com a lesão de Bale e manteve tal condição com a sua volta (o galês ainda não estava 100%, é verdade). A titularidade do espanhol permitiu que os muito qualificados laterais do Real, Carvajal e Marcelo, virassem os verdadeiros pontas dessa equipe, firmando Cristiano Ronaldo como centroavante muito mais do que jogador de beirada, ao lado de Benzema.

  E não tem como terminar o texto sem falar especialmente do português. Quem me conhece, sabe que acho o Messi muito melhor do que ele, e assim sempre pensarei. Mas isso não tira o mérito de CR7, não faz com que ele não possa ser considerado um dos melhores da história e que tenhamos que agradecer a oportunidade de ver esses dois gênios da bola. Essa temporada, mais do que nunca, apareceu seu poder de decisão. Afinal, como contestar um cara que fez 5 gols contra o Bayern nas quartas, 3 contra o Atlético na semi e 2 contra a Juventus na final?



Pedro Werneck Brandão

terça-feira, 23 de maio de 2017

Destaques individuais Premier League 16/17

  Depois de mais uma temporada espetacular, a Premier League 2016/17 chegou ao fim. Nesse texto reunirei algumas das principais estatísticas e meus destaques individuais.



  Para começar, minha seleção do campeonato:

  

  GOL: De Gea (Manchester United): Apesar de ter terminado em sexto, os Red Devils tiveram a segunda melhor defesa do campeonato. Muito disso se deve ao fato de ter um verdadeiro paredão no gol. O espanhol colecionou defesas espetaculares e vai se firmando como um dos melhores do mundo na posição.

  LD: Coleman (Everton): Temporada após temporada, o lateral do Everton é apontado como um dos melhores do campeonato. O irlandês é muito sólido defensivamente e ainda participa do ataque, incluindo 4 gols e 3 assistências.

  ZAG: David Luiz (Chelsea): Jogando como terceiro zagueiro, com mais liberdade que o normal, o brasileiro alcançou sua melhor fase na carreira. Foi um dos pilares do ótimo sistema defensivo dos Blues.

  ZAG: Alderweireld (Tottenham): Mais difícil que escrever seu nome, é passar por ele. O belga vem evoluindo como jogador a cada temporada. É um dos zagueiros mais seguros da liga.

  LE: Azpilicueta (Chelsea): Lateral esquerdo de origem, o destro Azpilicueta atuou como zagueiro pela direita no esquema de 3 defensores de Antonio Conte. Além de se destacar muito defensivamente e ter atuado em TODOS os minutos da competição, o jogador foi o que acertou mais passes no campeonato e o segundo que mais tocou na bola.

  VOL: Kanté (Chelsea): Eleito melhor do campeonato pela federação inglesa e pelos torcedores, o volante dispensa comentários. O francês não só desarma o tempo todo, como em todos lugares do campo. Com a bola nos pés não fica atrás, sempre com muita qualidade. O jogador obteve o feito espetacular de ganhar o campeonato mais difícil mundo duas vezes seguidas por dois times diferentes: Leicester e agora o Chelsea.

  MC: Ander Herrera (Manchester United): Jogando ao lado de Pogba, o espanhol conseguiu ser o maior destaque do meio-campo do United. Pouco valorizado, o jogador tem ótimo rendimento defensivo e ofensivo. Desarmou 84 vezes no campeonato, teve média de 67 passes por jogo (com 87% de aproveitamento), fez 1 gol e deu 6 assistências.

  MEI: Dele Alli (Tottenham): O jovem dos Spurs é outro que vem impressionando cada vez mais. Muito versátil, podendo atuar pelo lado e como meia tanto mais recuado quanto mais adiantado. Esse ano se destacou também pelo faro artilheiro, foram 18 gols, além de 7 assistências.

  MD: Hazard (Chelsea): O belga não tem números tão expressivos quanto de outros jogadores de frente, mas não deixa de ter sido um dos craques do campeonato. Puxando os contra-ataques dos Blues, foi importantíssimo para sempre quebrar a defesa adversária.


  ME: Sánchez (Arsenal): Em uma temporada fraca do time do Arsenal, o chileno carregou o time nas costas. Chamou a responsabilidade em todos os jogos, acumulando incríveis 24 gols e 10 assistências.

  ATA: Harry Kane (Tottenham): Mesmo ficando 2 meses fora por lesão, o atacante ainda terminou como artilheiro do campeonato. O incrível número de 1,2 participações diretas em gol/90 minutos mostra a qualidade absurda desse centroavante.
  

  E a seleção reserva:


  GOL: Courtois (Chelsea): Entre muitos goleiros de qualidade, como Lloris e Cech, tive dificuldade para escolher o segundo melhor da posição. Apesar de menos exigido do que outros, o belga foi bem demais quando necessário e provou por que é disputado por todos os gigantes europeus.

  LD: Walker (Tottenham): Walker sempre se destacou pela força ofensiva, principalmente na velocidade e na capacidade de cruzamento, as 5 assistências mostram que manteve isso. Mas esse ano também evoluiu muito como defensor, fazendo parte da defesa menos vazada do campeonato e contribuindo com 72 desarmes ao longo da competição.

  ZAG: Cahill (Chelsea): O zagueiro dos Blues já se mostra muito seguro e regular há algumas temporadas. Talvez não tenha tido o mesmo destaque dos dois companheiros de zaga, mas foi tão importante quanto. 

  ZAG: Vertonghen (Tottenham): Também foi uma decisão muito difícil deixar esse jogador fora da seleção titular. O belga fez um campeonato maravilhoso e formou uma baita dupla de zaga com o compatriota Alderweireld.

  LE: Rose (Tottenham): O lateral esquerdo só jogou metade da temporada, devido a uma lesão que o tirou da parte final. Mesmo assim, foi importantíssimo durante esse período, sendo muito elogiado pela imprensa inglesa, principalmente por conta da evolução, já que anteriormente não era unanimidade.

  VOL: Gueye (Everton): Craig Shakespeare, técnico do Leicester, apontou o jogador como o mais parecido com Kanté, e está correto. As características são as mesmas: fantástico nos roubos de bola e aparecendo muito bem na frente. O senegalês, inclusive, foi quem mais desarmou na temporada, superando os números também impressionantes do francês.

  MEI: Eriksen (Tottenham): Meia clássico, o dinamarquês tem ótima visão de jogo e é imprescindível para a dinâmica do time do Tottenham. Os 8 gols e 15 assistências mostram bem a qualidade do jogador.

  MEI: De Bruyne (Manchester City): Principal jogador do City, o meia atuou em diferentes funções, mas sempre com a mesma qualidade. As 18 assistências são uma marca muito expressiva, algumas delas maravilhosas. 

  MD: Mané (Liverpool): O senegalês vinha fazendo temporada espetacular, a melhor da carreira disparada. Depois do principal jogador do time, Coutinho, se machucar, teve que assumir a responsabilidade e fez bonito. Os 13 gols e as 5 assistências provam que o alto investimento dos Reds na sua contratação valeu a pena.

  ME: Coutinho (Liverpool): O pequeno mágico começou a temporada voando. Na metade, porém, sofreu uma lesão que o tirou dos gramados por um bom tempo. Logo depois de voltar, teve um pouco de dificuldade e não aguentava jogar uma partida completa. No final, voltou a crescer muito de produção e, na ausência de Mané, carregou o time nas costas em alguns momentos. Continuou marcando muitos golaços, sendo essa sua temporada mais artilheira, com 13 gols. Além dos gols, deu 7 assistências. Foi o principal nome da classificação da equipe para a Champions, a grande questão é se ficará para a próxima temporada ou irá para o Barcelona.

  ATA: Lukaku (Everton): O Everton fez uma temporada muito boa, terminando na 7ª colocação, e grande parte disso deve-se ao seu centroavante. O belga fez 25 gols, vice-artilheiro da competição, e chamou a responsabilidade nos momentos mais difíceis. 


Minhas premiações:

  Melhor jogador: Kanté (Chelsea)
  
  Melhor técnico: Antonio Conte (Chelsea)

  Gols mais bonitos:















  Artilheiros:

  1º lugar: Harry Kane (Tottenham)- 29 gols
  2º lugar: Lukaku (Everton)- 25 gols
  3º lugar: Sánchez (Arsenal)- 24 gols
  4º lugar: Agüero (Manchester City)- 20 gols
  4º lugar: Diego Costa (Chelsea)- 20 gols

  Garçons: 

  1º lugar: De Bruyne (Manchester City)- 18 assistências
  2º lugar: Eriksen (Tottenham)- 15 assistências
  3º lugar: Sigurdsson (Swansea)- 13 assistências
  4º lugar: Fàbregas (Chelsea)- 12 assistências
  5º lugar: Sánchez (Arsenal)- 10 assistências

  Luva de ouro (mais jogos sem sofrer gol):

  1º lugar: Courtois (Chelsea)- 16 jogos
  2º lugar: Lloris (Tottenham)- 15 jogos
  3º lugar: De Gea (Manchester United)- 14 jogos
  3º lugar: Fraser Foster (Southampton)- 14 jogos
  5º lugar: Cech (Arsenal)- 12 jogos
  
   Ladrão de bolas:

  1º lugar: Gueye (Everton)- 135 desarmes
  2º lugar: Kanté (Chelsea)- 127 desarmes
  3º lugar: Oriol Romeu (Southampton)- 117 desarmes
  4º lugar: Erik Pieters (Stoke City)- 106 desarmes
  5º lugar: Lowton (Burnley)- 101 desarmes

  Desarmes recebidos:

  1º lugar: Sánchez (Arsenal)- 128 desarmes recebidos
  1º lugar: Zaha (Crystal Palace)- 128 desarmes recebidos
  3º lugar: Diego Costa (Chelsea)- 120 desarmes recebidos
  4º lugar: Rondón (West Bromwich)- 108 desarmes recebidos
  5º lugar: Ross Barkley (Everton)- 97 desarmes recebidos

  Mais participações diretas em gol (gol ou assitência)/90 minutos:

  1º lugar: Harry Kane (Tottenham)- 1,281par/90mins
  2º lugar: Fàbregas (Chelsea)- 1,152par/90mins
  3º lugar: Sánchez (Arsenal)- 0,949par/90mins
  4º lugar: Son Heung Min (Tottenham)- 0,869par/90mins
  5º lugar: Agüero (Manchester City)- 0,861par/90mins
  6º lugar: Lukaku (Everton)- 0,854par/90mins
  7º lugar: Ibrahimovic (Manchester United)- 0,814par/90mins
  8º lugar: Phlippe Coutinho (Liverpool)- 0,803par/90mins
  9º lugar: Diego Costa (Chelsea)- 0,787par/90mins
  10º lugar: Pedro (Chelsea)- 0,776par/90mins

  *Só foram colocados jogadores com pelo menos 1200 miutos
  



Pedro Werneck Brandão

  

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Inglaterra azul

  

  Com duas rodadas de antecedência, o Chelsea se sagrou campeão inglês. Depois de uma temporada 2015/2016 horrível, o time deu a volta por cima e ganhou o título de forma incontestável. 

  O técnico italiano Conte assumiu o time na vaga de Mourinho, que foi para o Manchester United. A primeira ideia do treinador foi montar o time em um 4-2-3-1 básico, mas depois de um empate com o Swansea e uma derrota em casa para o Liverpool, ele decidiu colocar o esquema que ele está acostumado a usar em seus times, um 3-4-3. Raro no futebol inglês e muitas vezes questionado, o esquema com três zagueiros deu absurdamente certo.

  Chega a ser até curioso que inicialmente Conte não pensou no time nesse esquema, porque as peças acabaram se encaixando perfeitamente na forma de jogar. Ele conseguiu achar o lugar perfeito até mesmo para os jogadores mais questionados. O time titular em quase todos os jogos foi: Courtois; Azpilicueta, David Luiz e Cahill; Moses, Matic, Kanté e Marcos Alonso; Hazard, Pedro (ou Willian) e Diego Costa. 

  Todos os jogadores dos Blues se destacaram de alguma forma. Courtois fechando o gol, Kanté um monstro no meio-campo (eleito melhor do campeonato inclusive), Hazard criando todas as jogadas e Diego Costa sendo o matador de sempre. Porém meu destaque vai para os atletas que subiram de produção principalmente pela posição achada por Conte.

  Azpilicueta é meu primeiro destaque. Até temporada passada, o espanhol jogava tanto de lateral esquerdo quanto de direito. O maior destaque dele sempre foi o momento defensivo, tanto que já em 2014 os ex-jogadores Gary Neville (lateral do Manchester United) e Jamie Carragher (zagueiro do Liverpool) apontaram-no como melhor defensor do campeonato. Eu mesmo já imaginei várias vezes que ele também daria um ótimo zagueiro. Observando tudo isso, o treinador resolveu justamente coloca-lo nessa posição, mas, por ter mais dois companheiros de zaga, sua estatura não comprometeu no jogo aéreo. Candidato a melhor jogador do campeonato na votação online, além do destaque defensivo, César foi o jogador que mais acertou passes e o segundo que mais tocou na bola durante a temporada.

  O segundo destaque vai para David Luiz. Quando o zagueiro voltou ao Chelsea a pedido de Conte, eu critiquei muito a contratação. Mas o zagueiro calou minha boca. Isso porque o técnico conseguiu achar a única posição dentro de campo que esconde todos os defeitos do jogador e aproveita todas as suas qualidades. O brasileiro é o terceiro zagueiro, jogando centralizado e um pouco mais adiantado, com liberdade para sair para disputar as bolas no jogo aéreo e no chão. Além disso, também pode sair mais com a bola para ajudar na armação, coisa que, quando jogando com só um companheiro de zaga, comprometia o time.

  Por último, quero destacar também Victor Moses. O ponta sempre se destacou pelo vigor físico, mas nunca foi tão habilidoso. Por isso, vinha sendo emprestado sucessivamente. Esse vigor físico foi imprescindível para jogar de ala direito, atacando e defendendo com a mesma intensidade, se transformando em uma das principais válvulas de escape dos Blues.

  Esse time do Chelsea pode não ser o mais bonito de se ver jogar, mas não tem contestar uma equipe que ganha 30 de 38 jogos, acumula 93 pontos e tem 81,6% de aproveitamento. O segundo lugar Tottenham teve 86 pontos, poderia ter sido campeão com essa pontuação em outros campeonatos facilmente. 

  A equipe azul de Londres se solidificou como um time muito chato de se enfrentar. Um sistema defensivo muito difícil de se parar, capacidade de manter a posse de bola quando necessário e um contra-ataque mortal, sempre puxado pelo craque Eden Hazard.

  Conte conseguiu mostrar que talvez seja mais fácil o time se adaptar ao esquema do técnico do que o técnico se adaptar ao esquema do time. Jogando dentro de sua zona de conforto, o italiano foi contra o padrão do campeonato inglês e dificultou a vida de todos os adversários.



Pedro Werneck Brandão

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Time gigante, mentalidade pequena

Imagem retirada do site Gazeta Esportiva
  

  Vergonhosa. Essa é a palavra que melhor define a eliminação do Flamengo. O time chegou no último jogo precisando apenas não perder, e mesmo assim, só seria eliminado se o Atlético Paranaense ganhasse. 

  Além do fato de chegar em melhor situação na última rodada, o time rubro negro mostrou ao longo da fase de grupos ser o melhor com sobras. Até pelo nível de investimento, o favoritismo ficou bem evidente, mesmo o grupo sendo realmente o mais complicado da Libertadores.

  É importante ressaltar que essa não foi a primeira derrota do time na competição, o time viveu altos e baixos. No primeiro jogo, 4x0 no San Lorenzo com facilidade. No segundo, se retrancou contra a Universidad Católica e perdeu por 1x0 quase não criando. No terceiro, vitória por 2x1 contra o Atlético, em atuação razoável. Depois disso, derrota para o Furacão por 2x1 em atuação que começou ruim e só ficou boa quando o time teve que buscar o resultado. Jogando de novo no Maraca, mais uma grande vitória, 3x1 no Universidad Católica. E hoje, derrota por 2x1 para os argentinos.

  Três derrotas fora de casa. O peso da torcida não é o único motivo para isso, e diria que nem mesmo o principal. O problema foi a atitude do time. Com um time superior, não era necessário entrar de maneira tão defensiva nesses jogos, mas o fez. A derrota no Chile já deveria ter servido de aprendizado, porém o erro foi repetido.

  É verdade que, diferentemente dos outros dois jogos fora de casa, o Fla não entrou com três volantes, mas a atitude defensiva foi a mesma. O gol aos 15 minutos, em chute de fora da área de Rodinei, contribuiu para esse comportamento. No primeiro tempo, deu a bola, o San Lorenzo não criou e o Fla só teve um ou outro contra-ataque.

  No segundo tempo, a mentalidade de time minúsculo foi maior ainda, principalmente com a entrada de Rômulo no lugar de Berrío, aos 14. O San Lorenzo não criava, mas a partir do momento que toda bola perdida era devolvida a eles, as chances de gol aumentavam. Os argentinos passaram a só jogar bola na área, o que mostra uma falta de criatividade, porém ao deixar isso acontecer mil vezes, é lógico que o gol sairia.

  Aos 28, Matheus Sávio entrou no lugar de Gabriel. A substituição até fazia sentido, já que o titular não criava nada, mas não dá para entender a ausência de Mancuello no banco e a presença de um garoto ainda inexperiente. E o próprio perdeu a bola em seguida, originando o primeiro do San Lorenzo.

  Depois disso, 15 minutos de bola na área do time argentino. Aos 43, o zagueiro Juan entrou no lugar de Éverton inclusive. A imagem mais clara de que o Fla abdicou de jogar foi que quando Alex Muralha foi bater o tiro de meta, os 10 jogadores de linha ficaram no campo de defesa e deixaram ele chutar na direção do campo adversário. Aos 47, a bola finalmente entrou e castigou a nação rubro negra.

  O grande ponto é que Zé Ricardo já deveria ter aprendido durante a competição é que não existe apenas a possibilidade de se retrancar jogando fora de casa. No jogo do Chile, o Fla poderia facilmente ter ganhado se partisse para cima. Hoje poderia ter tocado a bola, poderia ter mandado o Guerrero segurar na bandeirinha de escanteio, mas não apenas esperar e torcer para a bola não entrar.

  A vitória do Atlético Paranaense na última rodada foi surpreendente. A lesão de Diego custou caro, ele poderia ter sido o jogador para segurar a bola nesse jogo. Mas mesmo com todos esses fatores a eliminação é ridícula.

  Zé Ricardo deve receber um baita esporro e entender que o gigante Flamengo não pode ter essa mentalidade de time pequeno. Ainda assim, a demissão não deve acontecer. Primeiro pelo mérito de ter levado um time não tão bom ano passado para a Libertadores e ainda brigando por título. Segundo porque nenhum técnico no mercado pode fazer um trabalho melhor no Brasileirão e Copa do Brasil do que quem já conhece tão bem o elenco e fez tantos bons jogos.

  Zé ainda está no começo da carreira, e essa eliminação vai ser de grande aprendizado. Jogando dessa forma fora de casa, ela aconteceria mais cedo ou mais tarde. Para a nação rubro negra é triste, muito dolorida, mas pode ser de aprendizado para o comandante. Brasileirão e Copa do Brasil ainda estão aí, o elenco ainda é um dos melhores do país e, corrigindo os erros, tem tudo para conquistar um título importante esse ano.

  Para terminar, gostaria de ressaltar mais uma coisa. Essa ideia dos brasileiros de que Libertadores só se ganha na raça acaba atrapalhando os times. É lógico que é uma competição que exige garra, raça, vontade, mas também técnica. O Flamengo é mais time que San Lorenzo e Católica. Se tivesse acreditado nisso, ganharia ou pelo menos empataria com eles mesmo fora de casa. A equipe carioca fez 21 faltas, chegou duro em todas as divididas, enquanto o argentino San Lorenzo fez 6, mas com a bola nos pés esqueceu o futebol em casa, literalmente.



Pedro Werneck Brandão

  

quarta-feira, 10 de maio de 2017

O caso Eduardo Baptista, mais um entre tantos

Imagem retirada do site esportes.r7.com
  

  O Palmeiras terminou 2016 em alta. Campeão brasileiro com sobras e apresentando ótimo futebol. O final do ano, porém, terminou com uma notícia nem tão feliz. Apesar de já especulada, a diretoria teve a confirmação de que Cuca não continuaria no comando palmeirense. A história foi muito mal contada, alguns disseram que ele trabalharia na China, outros que resolveria problemas pessoais e outros que iria fazer um curso na Europa. 

  Ainda em dezembro do ano passado, Eduardo Baptista foi anunciado como substituto de Cuca. É lógico que a missão seria muito difícil e ele sempre teria a sombra de seu antecedente. A pressão é gigante também porque o Palmeiras é o time brasileiro que tem investido mais pesado no mercado da bola e não pode-se esperar menos do que títulos. 

  Vale ressaltar que a escolha de Eduardo foi um tanto controvérsia. Ele fez um grande trabalho pelo Sport, de 2014 até o fim de 2015, aonde deixou o clube pernambucano para acertar com o Fluminense. Em seu primeiro trabalho em um time grande, não se saiu bem e durou um pouco mais de 6 meses. Logo depois acertou com a Ponte Preta, aonde teve ótima passagem.

  A conclusão é que ele foi muito bem em times pequenos, mas não aproveitou a oportunidade que teve em um grande. Não acho que a questão fosse não ter peso para treinar um time de alto escalão, até porque também tem muita pressão no Sport e na Ponte, mas sim que sua filosofia de jogo não se alinha com a de quem quer brigar lá em cima. 

  E se tem um clube que realmente tem que brigar lá em cima atualmente é o Palmeiras. Com um elenco recheado de ótimos jogadores, é esperado o melhor futebol possível. Futebol esse que Cuca conseguiu que o Verdão jogasse. A questão é que a filosofia de jogo de Eduardo é bem diferente. A grande pergunta é: por que ele foi contratado?

  Vida que segue, o treinador assumiu o clube e foi fazendo seu trabalho. No paulista, passou de fase com a melhor campanha (8V, 1E e 3D), porém sem apresentar um futebol tão bom e com algumas escolhas questionáveis (barrar o volante Tchê Tchê, por exemplo). O time acabou eliminado pela Ponte Preta na semifinal. Pela Libertadores, jogou 5 dos 6 jogos da primeira fase, o último deles derrota para o Jorge Wilstermann, jogo anterior a sua demissão. Faltando apenas um jogo em casa, o Palmeiras lidera o grupo com 10 pontos.

  O trabalho de Eduardo até o momento era maravilhoso? Não, mas também estava longe de ser ruim. O time ia conseguindo o principal objetivo: passar em primeiro na Libertadores. Mas um fator foi determinante para essa demissão, e não teve a ver com o desempenho do treinador. O jornalista Jorge Nicola havia anunciado na semana anterior ao acontecimento que Cuca estaria disposto a voltar a trabalhar. E dois dias depois de Baptista sair, o treinador campeão brasileiro teve seu retorno confirmado.

   Tenho algumas questões para levantar a partir disso. A primeira é que claramente a diretoria palmeirense se arrependeu da contratação de Eduardo. E como eu disse lá em cima, haviam muitos motivos para não efetuá-la. Então repito: por que contratou então? E isso é provado pelo fato de que mesmo ele não fazendo um trabalho ruim foi demitido.

  E não foi a primeira e nem a última vez que isso aconteceu no futebol brasileiro. Ano passo, por exemplo, o Inter contratou Falcão como técnico no decorrer do campeonato e o despediu depois de apenas cinco jogos. Oswaldo de Oliveira assumiu o Corinthians no final do ano, teve um aproveitamento melhor do que o time no resto do campeonato, mas mesmo assim não resistiu no cargo. E isso não é desvantagem apenas para o treinador. No caso de Oswaldo, a diretoria corintiana teve que pagar uma cláusula de rescisão de R$1 milhão para poder demiti-lo.

  A segunda questão é o quanto a diretoria palmeirense sabia da situação de Cuca. Não tem como não pensar que talvez eles já soubessem que no meio do ano o treinador estaria novamente disponível e colocaram Eduardo com a seguinte ideia: "Se for perfeito, fica, se não, já chamamos o Cuca no meio do ano". E se foi esse o caso, por que não deixou o auxiliar Alberto Valentim, que já havia sido cogitado, e teria um salário bem menor.

  A terceira é sobre o quanto a cultura do futebol brasileiro é resultadista. O jogo não se resume a perder ou ganhar. Se as diretorias do nosso país fossem mais inteligentes entenderiam que um time jogando bem, mesmo que com resultados ruins, tem um grande potencial de melhora. Enquanto times jogando muito mal, mesmo que estejam conseguindo resultados, tem tudo para cair de produção alguma hora.

  Sabendo disso, fico refletindo o que a diretoria palmeirense teria feito se Eduardo tivesse ganhado o jogo da Libertadores contra o Jorge Wilstermann. Isso porque o Porco ficaria com 13 pontos e o segundo colocado com 7, ou seja, garantiria a primeira posição do grupo. Será que teriam coragem de demiti-lo mesmo assim? E qual justificativa dariam? Aguardariam a primeira derrota para despedi-lo? 

  É importante eu dizer que treinador por treinador prefiro o Cuca mil vezes. Mesmo assim, acho que a maneira que trataram Eduardo foi muito injusta. E, indo mais longe, quero saber como reagirá a direção e a própria torcida, que está convicta de que o retorno de Cuca significará sucesso, se o Palmeiras for eliminado já nas oitavas da Libertadores.

  O fato é que a maneira que as diretorias lidam com os técnicos no Brasil deve ser repensada. Elas devem parar de tomar decisões imediatistas sem ter certeza absoluta e também saber que todo técnico precisa de sequência para firmar o seu trabalho. 

  Essa semana, a CBF organizou um evento chamado "Somos Futebol" em que técnicos e jornalistas palestraram sobre o futebol. Entre as figuras, estavam Tite, Marcelo Bielsa (técnico argentino) e Fábio Capello (técnico italiano). Nesse evento, o técnico brasileiro falou algo que tem bastante relação com esse texto e deixo aqui para encerrá-lo: "Gostaria de viver no país que o técnico até ganhasse menos, mas que tivesse mais estabilidade. Ficamos em média três meses. Na Inglaterra, a média é 16 meses, segundo um livro que eu li. Não queremos superexposição, aparecer demais, queremos trabalhar mais."



Pedro Werneck Brandão 

  

  

sábado, 6 de maio de 2017

Felipe Melo, "o pitbull"

Imagem retirada do site "UOL Esporte"


  A volta de Felipe Melo ao Brasil teve uma enorme repercussão. Vários fatores motivaram tanto alarde: o fato de ser um grande jogador, a disputa entre vários clubes pela sua contratação, a demonstração da força do Palmeiras e, principalmente, suas atitudes fora de campo.

  O jogador sempre foi muito polêmico. Dentro de campo, ótimo jogador, raçudo (até demais). E esse "excesso de vontade" proporcionou lances nada agradáveis ao adversário, incluindo algumas entradas violentíssimas. 

  Em 2010, Felipe jogava pela Juventus e era titular absoluto da seleção de Dunga. O jogador tinha características muito admiradas pelo treinador (incluindo a agressividade) e era simplesmente inquestionável. Com certa segurança, a seleção chegou às quartas de final, onde enfrentaria a Holanda. O volante falhou no primeiro gol e, depois de sofrer a virada, perdeu a cabeça, pisou em Robben de forma muito violenta e levou o cartão vermelho. Para piorar, disse após o jogo que o árbitro havia exagerado.

  Mais do que nunca, a agressividade de Melo passou a ser fortemente criticada na imprensa. A eliminação foi jogada em cima dele, talvez até injustamente. Por um bom tempo, uma possível volta dele à seleção era totalmente descartada. 

  Mesmo assim, Felipe continuou sua carreira de cabeça erguida, foi para a Turquia, mas nunca fez com que fosse possível a saída do seu nome da mídia. Através das redes sociais, mostrava sua torcida para o Flamengo, provocava jornalistas e outros jogadores, sendo sempre figura constante nos noticiários.

  Seus atos violentos também nunca desapareceram dos jornais esportivos. Em 2013, no clássico entre o Galatasaray e Fenerbahce (dérbi turco repleto de casos de violência e ódio entre as torcidas), ele foi expulso após entrada duríssima e na saída mostrou a camisa do time à torcida rival. O resultado? Ela invadiu o campo atrás do jogador. É lógico que a reação foi completamente desnecessária, mas, sabendo do histórico desse jogo, a provocação do brasileiro também. Segue o vídeo do caso: https://www.youtube.com/watch?v=fSh64tjL7mc. Em 2015, jogando pela Inter de Milão, Felipe conseguiu chocar a imprensa do duríssimo futebol italiano após solada no ombro de Biglia, da Lazio. Veja o lance: https://www.youtube.com/watch?v=bOzs4YWrxVs.

  Os casos são muitos. Desde o ano passado, o nome do volante passou a ser vinculado a clubes brasileiros, principalmente o Flamengo e o São Paulo, com isso, seu nome passou a circular mais ainda entre os jornais. No começo desse ano, o endinheirado Palmeiras surpreendeu a todos e acertou com o jogador. A contratação foi vista como excepcional e ele veio a peso de ouro.

  Em 2010, a imagem de Felipe havia passado a ser deteriorada pela mídia, certo? Acontece que esses 7 anos mudaram tudo. A chegada do jogador ao Brasil foi vista como espetacular e uma das maiores do futebol brasileiro nos últimos anos. Violento, agressivo e outros adjetivos foram deixados de lado, trocados por "pitbull" e raçudo, por exemplo.

  Isso tudo botou a moral de um cara que já fala o que quer lá em cima. Resultado? Toda vez que abre a boca solta uma polêmica. Em janeiro, por exemplo, disse, em relação ao pisão de 2010: "Óbvio que não vou fazer de novo, mas há dez anos atrás, se tivesse que voltar no tempo, eu faria de novo".

  E chegou num ponto que qualquer coisa que ele fizesse virava notícia. Durante jogo do campeonato paulista, ele evitou um balão e vibrou enfaticamente na cara do adversário. Os fãs do jogador acharam o gesto fantástico: "mito", "isso sim é jogador de verdade".

  Esse tipo de atitude de Felipe não acontece só contra os adversários não. Semana retrasada, durante treino, ele se estressou com o garoto Roger Guedes e gritou para ele: "Me respeita, porra. Você é moleque, porra". Não preciso nem dizer o quanto foi elogiado por isso.

  Entre muitas e muitas, a frase mais repercutida do jogador palmeirense foi ainda em janeiro quando disse "Se tiver que dar tapa na cara de uruguaio, vou dar". Na hora, já achei totalmente desnecessária, o jogador tentou se explicar falando que não queria dizer literalmente, mas acho que havia metáforas melhores para serem usadas, né? Na rodada retrasada da Libertadores, a frase voltou a ser muito repercutida. Jogando contra o Peñarol, no Uruguai, os uruguaios partiram pra cima dos brasileiros, principalmente buscando o próprio Felipe. Assim como disse no caso do clássico turco, essa reação foi pior ainda e totalmente desnecessária, mas poderia ter sido evitada não fosse a frase do "Pitbull".

  Todo mundo que acompanha futebol sabe que um dos temas mais recorrentes nos programas futebolísticos é a violência dentro dele. Em qualquer tipo de confusão, as torcidas são condenadas, mas os jornalistas simplesmente esquecem do fato de que muitas vezes o que acontece dentro de campo as motiva. As atitudes de Felipe são prova clara disso. Mas o engraçado é que os que criticam tanto a violência no futebol ajudam a alimentar a imagem do jogador de "Pitbull". 

  Os defensores do "futebol raiz" reforçam nas redes sociais o tempo inteiro que Felipe Melo é um mito. Dizem que ele é o oposto da "geração mimimi", o anti-futebol moderno. Bom, se o futebol moderno é o que evita brigas dentro e fora de campo, lances que botam em risco a integridade física do jogador, etc., que assim seja. 

  Essa imagem de cara agressivo, chamado de mito nas redes sociais, que fala o que quer e combate a tal "geração mimimi" me lembra muito a de um outro cara. Termino então deixando um vídeo aqui, para mim, um tanto representativo: https://www.youtube.com/watch?v=QuuFlQPC6ys,



Pedro Werneck Brandão