quarta-feira, 6 de março de 2019

Duas faces de um Ney, igualmente, mídia


 Pedro Werneck Brandão



Fonte: Twitter/Mundo ESPN


O Paris Saint-Germainn foi eliminado de maneira inacreditável para o Manchester United, perdendo por 3x1 dentro de seu estádio. Em um jogo de falhas individuais gritantes de jogadores parisienses, bastou rolar algumas vezes a tela pelas principais redes sociais para identificar que o nome do ausente Neymar era mais falado do que dos 14 (contando os que entraram) atletas que de fato disputaram a partida pela equipe francesa.

Não é nenhuma novidade que o nome de Neymar seja citado frequentemente pela mídia. Um espirro da estrela brasileira vira notícia de urgência dentro da nossa imprensa. O apelido de “Neymídia” cai perfeitamente, não no sentido de que ele é “só mídia”, pelo contrário, é um craque absurdo dentro de campo e isso não pode ser discutido, mas sim por ter se tornado uma grande celebridade.

O ex-jogador e comentarista da Band, Neto, inclusive, falou exatamente isso durante a celebração do Carnaval, que Neymar havia se tornado uma celebridade, mais do que um jogador de futebol. E justamente o fato de Ney ter celebrado o Carnaval aqui no Brasil durante a última semana gerou muita polêmica.

Ainda se recuperando da lesão que o tirou dos últimos jogos do Paris, o atleta veio ao seu país de origem celebrar o Carnaval. A atitude já foi criticada por si só, mas um vídeo específico, que mostra o brasileiro dançando durante um desfile, piorou a situação. Muitos questionaram se a atitude era correta para alguém se recuperando de lesão e os mais fantasiosos até mesmo duvidaram da lesão do craque, acusando-o de fingimento e chamando-o de pipoqueiro. Essa teoria, convenhamos, não é nada crível.

Sinceramente, eu não sou médico, e não tenho como dar nenhuma opinião sobre o que Neymar podia ou não fazer no sentido de não atrapalhar sua recuperação. De todo jeito, o camisa 10 da nossa seleção ainda tinha o alívio do conforto vivido por sua equipe, sobrando no campeonato e tendo construído uma grande vantagem fora de casa na Champions League. Ele não poderia passar a imagem, então, de estar rindo à toa durante uma má fase de sua equipe.

Inexplicavelmente, porém, a eliminação do PSG parece ter dado uma falsa ideia de que a má fase da equipe francesa já existisse e o tom das críticas a celebração do Carnaval por parte de Ney aumentasse consideravelmente.

O comportamento de Neymar ao final do jogo, o qual assistia da beira do campo, atacando a arbitragem veemente também foi um prato de mão cheia para os haters o chamarem de mimado, o que não é nenhuma novidade.

O motivo desse texto, entretanto, é justamente questionar todas essas discussões nesse momento. O PSG acaba de sofrer uma eliminação V-E-R-G-O-N-H-O-S-A e só se fala de um jogador que não entrou em campo. Muito mais, inclusive, do que das falhas de Buffon e Kehrer e dos gols perdidos por Mbappé.

Se tudo isso me faz reafirmar a figura midiática que é Neymar, também me faz identificar fortemente uma mudança na imagem do brasileiro. Quando os críticos o chamavam insistentemente de “Neymídia” era justamente por acusarem-no de não ser um jogador tão qualificado quanto a mídia dizia, questionando o fato de ser extremamente enaltecido. Hoje a realidade parece ter mudado e a imprensa parece contribuir cada vez mais para a mudança da imagem de Neymar de herói para vilão.

Os fracassos do craque com a seleção brasileira aumentaram muito o número daqueles que simplesmente odeiam-no. A mídia, de maneira geral, percebeu isso e viu que conseguiria mais repercussão reforçando isso do que se colocando como defensora inquestionável do nosso melhor jogador.

O momento para tal mudança de postura não poderia ser mais oportuno: imagem de cai-cai na Copa do Mundo, lesões coincidindo com momentos importantes de suas equipes e grandes exibições de Mbappé, que criou o discurso ridículo de que Neymar saiu da sombra de Messi para entrar na do francês.

Hoje foi o dia mais fácil de identificar tal modificação pela repercussão da eliminação colocando Neymar em destaque de uma maneira bem diferente. Poucos anos atrás, o brasileiro seria igualmente destacado em situação parecida, mas provavelmente em algo como: “PSG sente ausência de Neymar e é derrotador pelo Manchester United”. Dessa vez, porém, o camisa 10 apareceu mais como a imagem de um PSG fracassado. A manchete abaixo da ESPN cai como uma luva na minha argumentação:



Talvez meu texto seja um pouco contraditório, escrevendo sobre Neymar e não sobre o jogo em si justamente para criticar a grande mídia esportiva por fazer o mesmo. Jogo esse que foi eletrizante, qualificado, e ofereceu tudo que o futebol tem de melhor a oferecer. Deixo como minha parte, porém, uma manchete mais justa para a partida de hoje: “Em jogo sensacional, United faz milagre nos acréscimos e elimina o PSG em pleno Parques dos Príncipes”.