quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Mais um Flacasso

Imagem retirada do site Flamengo RJ
  

  O roteiro desenhado pelo período que antecedeu o duelo da semi-final da Copa do Brasil entre Flamengo e Corinthians era de um Flamengo dominante enfrentando uma equipe frágil. Roteiro esse que fazia todo sentido, pelos jogadores de cada time e pelo desempenho no ano. 

  O primeiro jogo, porém, não se desenvolveu dessa forma. O Flamengo enfrentou um Corinthians retrancado, com uma proposta bem definida e que a cumpriu bem. O resultado de 0x0 era exatamente o que a equipe paulista queria para voltar para casa com uma situação favorável para aproveitar-se do fator torcida. 

  As estatísticas do jogo de ida (23 chutes a 4 e 74% de posse de bola do Fla) mostram um domínio flamenguista, apesar do resultado. Os números, porém, são mentirosos e demonstram uma situação recorrente no Flamengo 2018, uma equipe que fica com a bola, tenta, mas não consegue de fato dominar uma partida criando chances claras do início ao fim.

  O jogo de volta já mostra uma menor superioridade, o Fla é derrotado por 2x1 chutando apenas 10 vezes e tendo 56% de posse de bola. O primeiro gol corinthiano vem de falhas já conhecidas dos laterais flamenguistas. Pelo lado esquerdo, Trauco e Diego não se entenderam em relação a quem sairia para o combate, quem ficaria na cobertura, e deixaram Jadson livre para efetuar a inversão que alcançou Danilo Avelar absolutamente livre, por conta do mau posicionamento de Pará. 

  A intenção desse texto, porém, não é falar das falhas defensivas do Flamengo, mas sim da pouca produção ofensiva para os jogadores que o time tem. O meio-campo que começou a partida hoje com Cuéllar, Arão, que voltou a jogar bem nos últimos jogos, Éverton Ribeiro, Paquetá e Diego seria sonho de qualquer técnico brasileiro. 

  Mesmo com esse meio-campo de respeito, nenhum atacante rubro-negro consegue se consagrar. Dourado, artilheiro do último campeonato brasileiro, não consegue achar um espaço, sem estar em impedimento, para que o trio de meias criativo coloque uma enfiada de bola. 

  O problema vai mais longe do que a pouca eficiência dos centroavantes. O time parece não ter jogadas trabalhadas no ataque. É raro um momento de triangulação que funcione, algo que deveria ser recorrente com os jogadores que tem. 

  A impressão que fica é de um time flamenguista que acabou de ser criado. É possível observar que tem ótimos jogadores, mas eles parecem ainda não se encaixarem. A verdade é que a maioria já joga junto há muito tempo e o técnico já ocupa o cargo há alguns meses. Já o Corinthians, cujo treinador assumiu a equipe há 5 jogos, mostrou um plano de jogo bem definido e o executou com perfeição. 

  Se o time do Flamengo era realmente tão superior ao "frágil" Corinthians, como não conseguiu evidenciar nenhuma fraqueza do time paulista nos dois jogos? Já o Coringão, ao marcar seu primeiro gol, mostrou ciência da fragilidade dos laterais rubro-negros. 

  O ainda inexperiente Maurício Barbieri mostra tentativas de mudança tática pouco efetivas. No jogo de ida da Libertadores contra o Cruzeiro, começou com Vitinho de falso 9, mas o time acabou sendo uma confusão, cada hora um jogador ocupando a posição de centroavante sem eficiência. Agora contra o Corinthians resolveu colocar os 3 meias, Diego, Éverton e Paquetá para mudarem de posição constantemente, mas, ao invés de confundir o adversário, a decisão parece ter confundido o próprio Flamengo.


  Apesar de ter excelentes jogadores, o Fla parece ainda não se configurar como time. Por enquanto, fez o suficiente apenas para brigar pela liderança em um Campeonato Brasileiro em que os melhores times poupam seus principais jogadores em quase todas as rodadas. Agora disputando apenas essa competição, a obrigação é formar uma equipe bem definida, coisa que já deveria ter acontecido há muito tempo, mas que, por enquanto, só foi vista no jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil, contra o Grêmio.



Pedro Werneck Brandão



segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Racismo na NBA

Imagem: ESPN

O basquete nos Estados Unidos hoje é indiscutivelmente um esporte majoritariamente negro. Por mais que no início da criação da principal liga de basquete mundial, a NBA, grande parte dos jogadores e torcedores fossem brancos, essa situação foi mudando radicalmente ao longo da história. 

Isso pode ter ocorrido pelo fato de ser um esporte que não necessita de grandes materiais, apenas uma bola e uma cesta já permitem sua prática, e pode ser jogado como forma de diversão por qualquer número de pessoas, o que levou a uma rápida adoração por parte dos fãs nas periferias estadunidenses. Além disso, a altura é um dos requisitos, hoje muito menos que antes, para se jogar profissionalmente, e a população negra no país tem um percentual de pessoas altas maior. 

Esses fatores levaram hoje a uma NBA negra, mais de 80% dos jogadores são negros, além de cerca de 65% dos fãs, de acordo com o site Quora. O esporte com certeza foi essencial para a luta dessa população que sofre com o racismo nesse país desde seus primórdios, surgindo figuras negras extremamente representativas, que mostram um grande poder de superação, como o maior astro da liga LeBron James, que sempre faz questão de se posicionar acerca das lutas raciais. 

Mesmo assim, não são os negros que comandam o basquete estadunidense. Entre as 30 franquias que disputam a principal liga, apenas um dono majoritário é negro, o melhor jogador da história do esporte, Michael Jordan, dono do Charlotte Hornets. 

Além da diferença nos números, o próprio termo soa estranho. Draymond Green, um dos principais jogadores do Golden State Warriors, se posicionou sobre o assunto. Ele disse que não gosta dessa palavra e que os jogadores não pertencem a ninguém. Conhecido como um jogador emocionalmente instável, que facilmente se estressa dentro e fora de quadra, tais palavras foram vistas como exageradas. O dono da franquia Dallas Mavericks foi um dos que viu dessa forma e se envolveu em grande discussão com Green.

No começo, eu também vi aquilo como um exagero. Esses “donos” de fato compraram as franquias. Mas, parando para pensar, lembrando que quase 90% dos jogadores são negros, e essa população foi escravizada por tantos anos, dizer que eles pertencem a alguém não soa nada bem.

A problematização de Green ganha ainda mais força quando pensamos na maneira que os jogadores são tratados. Diferente de outros esportes, o jogador da NBA não tem poder de escolha em relação ao clube que jogará. No início do ano, os novos astros são escolhidos pelos clubes em um evento chamado draft. Durante o contrato dos mesmos, eles podem ser trocados para outra franquia se os donos quiserem, independente da opinião dos mesmos.

Tal política causou grande discussão no mês passado, quando dois dos principais jogadores da liga, DeMar DeRozan e Kawhi Leonard, foram trocados. Os dois declararam que não queriam ter ido para as franquias que foram, mas simplesmente não puderam escolher.

Os números de que 65% dos fãs da NBA são negros também é estranho quando olhamos a torcida nos estádios da NBA. A grande maioria é branca. Procurei pesquisas que pudessem comprovar isso, mas não consegui achar em lugar nenhum. Porém basta olhar para o público durante os jogos e tal situação fica evidente.

Por que mais gente branca do que negra nas arquibancadas se existem mais torcedores negros? Por conta do alto preço dos ingressos, que evidencia a discrepância do salário recebido entre negros e brancos nos Estados Unidos.

Essa discussão ainda precisa ganhar muito mais força, algo comprovado pela falta de pesquisas acerca de tal.  O basquete é dito como importantíssimo para a superação das diferenças raciais, e realmente é, mas continua evidenciando o racismo nos Estados Unidos. No final das contas, são pessoas brancas comandando jogadores negros, decidindo seus destinos, para que outras pessoas também brancas possam se entreter.

O famoso jornal “The Washington Post” fez um artigo chamado “Nas quadras da NBA, a minoria comanda”. Nele, a situação dos jogadores dentro da liga foi dita como oposta à do mercado de trabalho, com predominância negra e mais prestígio deles inclusive. O técnico do Golden State Warriors, Steve Kerr, fez questão de ressaltar que: “Ao mesmo tempo, nós estamos vivendo uma situação utópica, na qual todo mundo está bem financeiramente. E você não tem o mesmo tipo de competição racial que existe de sobra no mundo do trabalho”.



Pedro Werneck Brandão