domingo, 14 de janeiro de 2018

Ninguém é invencível



Imagem retirada do Twitter oficial do Liverpool
  

  Assim que começava o confronto entre Liverpool e Manchester City, falei que seria 4x4. Errei por um gol. 4x3 para o time de Anfield. Mas não foi a toa que chutei um placar com tantos gols.

  No livro "Guardiola Confidencial", do jornalista peruano Marti Perarnau, em determinado trecho o treinador espanhol, ainda quando treinava o Baryern, revela sua metodologia em relação à pressão alta: "Faremos essa pressão poucas vezes na temporada, contra times como o Barça e alguns outros. O restante das equipes, na terceira vez que pressionarmos a saída, passará a dar chutões. Vamos receber a bola de presente e ter que trabalhar outros aspectos para evitar os contra-ataques e o perigo da segunda bola". Para quem gosta de pressionar o adversário, é fato que o Manchester City de hoje é um dos times que necessita receber essa pressão constante, e foi o que Klopp fez com seu Liverpool.

  E essa pressão alta que tanto Klopp quanto Guardiola gostam tanto foi a chave do jogo de hoje. Na época do Barcelona, mesmo que o adversário pressionasse muito, era difícil o time de Pep perder a bola. Por mais que o Manchester City de hoje talvez jogue o melhor futebol da Europa, é impossível comparar Stones com Piqué ou Fernandinho com Busquets. 

  O time do Liverpool, por sua vez, tem uma defesa extremamente insegura, que leva dificuldade contra times eficientes no ataque. O recém-chegado Van Dijk, zagueiro mais caro da história, planeja consertar esse problema, mas hoje não pôde jogar por conta de uma lesão. 

  O jogo começou como esperado, os dois times pressionando muito. Aos 8 minutos, Firmino ficou com a bola na dividida e tocou para Chamberlain, que avançou e chutou muito bem no canto para abrir o placar. Aos 40 minutos, foi Sané quem pegou a bola, fez grande jogada e bateu forte no canto do goleiro Karius para empatar o jogo. A primeira etapa não foi tão agitada, as equipes foram intensas, mas não provocaram tantos erros do adversário.

  O segundo tempo já foi diferente. O Liverpool começou a apertar mais ainda, aproveitando a velocidade e vontade do trio de ataque Mané, Salah e Firmino. Aos 13 minutos, Chamberlain avançou com a bola e tocou para Firmino, que ganhou de Stones na dividida e com muita categoria marcou de cobertura. 3 minutos depois, Otamendi foi tentar sair jogando e perdeu para Salah, que rolou para Mané mandar um balaço de canhota na gaveta. E apenas 6 minutos depois veio o quarto gol, dessa vez o goleiro Ederson saiu bem do gol, mas na hora de afastar entregou nos pés de Salah, que chutou de muito longe aproveitando o gol vazio. Três golaços.

  O jogo parecia definido. O Liverpool continuava provocando erros em sequência do City, ora com Fernandinho, ora Danilo, ora Walker. Aos 79, Klopp fez uma substituição esquisita, tirou Emre Can, jogador que mais desarma no Liverpool, responsável por impedir a bola do City de rodar na entrada da área para colocar James Milner. 

  Aos 84, o Manchester City entrou tabelando, a bola sobrou para Bernardo Silva, que havia substituído Sterling há pouco tempo, marcar o segundo do time de azul. Aos 88, outra substituição estranha nos Reds, saindo Salah, o jogador mais qualificado para tentar segurar a bola, para entrada de Lallana. Aos 91, Agüero cruzou, Gundogan dominou bonito e mandou pro gol. Final do jogo: 4x3 para o Liverpool.

  Esse resultado acabou com a invencibilidade do Manchester City, que até então tinha 20 vitórias e 2 empates no campeonato. Klopp mostrou que é mesmo especialista em pressão alta e fez Guardiola provar do seu próprio veneno quanto enfrenta grandes times. O problema é que, apesar de fazerem boas temporadas, Danilo, Stones, Otamendi e Fernandinho não são exímios passadores e cometeram o tipo de erro que mais irrita o treinador espanhol.

  Por outro lado, a equipe de Manchester não precisou de muito para quase conseguir o empate no final do jogo. Em poucas chegadas dentro da área, a defesa dos Reds já mostrou insegurança e deu liberdade para o adversário marcar. Além disso, não seria a primeira vez, longe disso, que o Liverpool não conseguiria segurar uma larga vantagem. É preciso repensar essa estratégia para segurar o jogo. Faltam jogadores de cadência no elenco? Faltam marcadores? O problema é excesso de confiança?

  A lição que fica para os adversários do Manchester City tanto na Premier League quanto na Champions League é que não adianta só se retrancar, é preciso pressionar na frente, pois o time pode não ser tão qualificado quanto esperado. Já o Liverpool continua cometendo os antigos erros, mas mostrou que, mesmo sem Phlippe Coutinho, pode ir longe na temporada com seu ataque extremamente veloz.



Pedro Werneck Brandão

domingo, 7 de janeiro de 2018

Despedida dolorosa

  Imagem retirada do site Independent.ie


  Meu irmão sempre gostou muito do Liverpool, então sempre que me perguntavam para que time eu torcia na Europa, eu respondia prontamente que eram os Reds. Mas foi apenas na temporada 2013/2014 que eu passei a torcer de verdade para o time inglês. Minha torcida coincidiu com a chegada de Phlippe Coutinho. 

  O time daquela temporada era espetacular. Eu não perdia um jogo sequer. Gerrard, capitão e maior ídolo do clube, jogando no meio com um quarteto ofensivo formado por Sterling, Coutinho, Sturridge e Suárez. Aprendi a cantar a música do Liverpool "You´ll never walk alone" e passei a entoar junto com a torcida antes dos jogos no Anfield, sempre ficando completamente arrepiado. Coisas do futebol, os Reds perderam aquele título praticamente certo.

  Ofuscado por um ano absurdo de Suárez e Sturridge, a torcida de cara gostou de Coutinho, mas ainda não era totalmente valorizado. Mas eu desde o começo já o achava um craque. O estilo de jogo dele valoriza tudo que admiro dentro do futebol: o drible, o toque de bola e o chute de fora da área.

  Me chamavam de maluco por dizer que ele jogava muito, por pedir ele na seleção desde aquela época, por falar que ele era mil vezes melhor que Oscar, William e Douglas Costa. Mas eu continuei repetindo o mesmo, e sabia que as pessoas não sabiam o tamanho do futebol dele, porque não assistiam os jogos. E hoje que todos valorizam ele, faço questão de falar "eu avisei" para cada um que discordou de mim e não viu o potencial do brasileiro.

  Na temporada 2014/2015, Suárez deixou o Liverpool rumo ao Barcelona e Sturridge sofreu muito com lesões. Comandado por Brendan Rodgers, o time foi muito mal na Champions, eliminado na fase de grupos. Mas em um time desorganizado e com poucos craques, o "Pequeno Mágico" começou a ganhar protagonismo.

  Porém foi na temporada seguinte que Coutinho, com a venda de Sterling e a aposentadoria de Gerrard, passou a carregar o time nas costas. Também se especializou em chutes de fora da área e cobranças de falta, sendo que no início da carreira tinha no chute uma de suas fraquezas. 

  E carregando o time nas costas, Coutinho não fez feio. Levou o time até a final da Europa League, na qual perdeu para o Sevilla. Nas oitavas, o time se classificou com um golaço decisivo do brasileiro contra o rival Manchester United. Nas quartas, eliminou o Borussia Dortmund virando um jogo de 3x1 para 4x3, em uma das melhores partidas que assisti na vida, um dos gols sendo marcado por ele. Na semi, passaram com facilidade pelo Villarreal. Pelo campeonato inglês, os Reds não conseguiram a classificação para a Champions League.

  Com Klopp já adaptado, o Liverpool teve uma temporada 2016/2017 muito consistente. O time ficou em quarto na Premier League e voltou à Champions. Apesar de sofrer com lesões, Coutinho obteve excelentes números, 13 gols e 7 assistências em 28 jogos.

  E chegamos à atual temporada. Com o time fortalecido, começou muito bem o campeonato inglês e passou pela fase de grupos da Champions com facilidade. Devido às lesões de Henderson e Milner quase sempre no banco, Coutinho ganhou o posto de capitão do time. Passou a ter definição completa de craque do time: "dez e braçadeira". Vinha tendo os melhores números da carreira, somando todas as competições, já eram 15 gols e 8 assistências em 23 jogos, uma participação direta por jogo.

  Em qualquer âmbito, sempre achei meio bobo essa idolatria por uma pessoa famosa. Fosse cantor(a), jogador(a) ou qualquer outra coisa. Mas depois de Coutinho, passei a ver isso de maneira diferente. Pelo futebol bonito, pela minha identificação com o jeito dele, discreto. Tudo contribuiu para que eu me tornasse mais do que fã dele. E fica mais fácil quando ele joga no time que você torce.

  Entendo a decisão dele de ir para o Barça, a maior possibilidade de ganhar títulos, a parceria com Messi e Suárez, esse segundo já amigo dele. Além disso, como ele ainda tem 25 anos, pode passar a ser o craque da equipe e quem sabe até melhor do mundo depois que esses dois craques ficarem mais velhos. Por outro lado, acho que poderia ter esperado até o final da temporada, já que não poderá jogar a Champions pelos catalães, por já ter disputado jogos com o Liverpool, e o título espanhol já estar praticamente garantido. Ficando na Inglaterra, poderia, quem sabe, fazer história dentro da competição européia sendo a estrela do time.

  Continuarei torcendo pelo Liverpool. Continuarei torcendo pelo sucesso de Coutinho. Mas não será a mesma coisa agora que essas duas torcidas estão separadas. Nunca imaginei que ficaria triste com uma transferência no futebol, mas fiquei, e muito.



Pedro Werneck Brandão