quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Abel e a velha mentalidade do futebol brasileiro

 Pedro Werneck Brandão 



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Fonte: UOL Esporte

          O Flamengo perdeu para o Fluminense por 1x0 o jogo de ida da semifinal da Taça Guanabara. E perdeu porque quis. Nem o mais fanático torcedor tricolor acha que sua equipe é superior no papel à do rival rubro-negro, mas a superioridade não foi refletida dentro de campo. Longe disso.

 O Flu comandado por Fernando Diniz jogou para frente, foi aguerrido e não abriu mão do seu jogo de toque de bola. O Fla de Abel se defendeu completamente, esperando pelo contra-ataque, contando com a vantagem do empate. 

O jogo de hoje é mais uma entre tantas provas de que o futebol brasileiro não vai para frente por conta da mentalidade dos técnicos. Pouquíssimos tentam formar um time de verdade e que se propõe a jogar bola. Apesar de muitos erros e nenhum título, eu me orgulhava do Fla dos últimos 2/3 anos por ser um dos poucos que pelo menos tentava jogar, sempre tendo mais posse de bola e criando mais chances que o adversário. Agora, com Abel, nem disso posso me orgulhar.

Por outro lado, Fernando Diniz tenta trazer para o nosso futebol essa nova mentalidade, condizente com o que se é praticado nas melhores ligas do mundo. No Atlético-PR teve altos e baixos, saiu por baixo, mas deixou marcas reconhecidas por todos os atletas na conquista da Sulamericana.

O Brasil, um dia reconhecido pelo futebol bonito, hoje vai na contramão do resto mundo e insiste em treinadores que preferem “jogar por uma bola”. E essa já é uma mentalidade tão enraizada por aqui que as próprias conquistas nacionais não servem de parâmetro. Os defensores desse estilo de jogo usarão o título do Brasileirão de Felipão com o Palmeiras ano passado ou o de Carille com o Corinthians ano retrasado como justificativa, mas como se comparar se ninguém tenta o contrário?

Os times grandes raramente tentam apostar em alguém que dará uma nova cara, muito por medo de que dê errado. O resultado é uma liga mal jogada, com partidas tenebrosas, na qual o menos pior levanta a taça.

A crise do futebol brasileiro não passa pelos jogadores, e a prova está no desempenho ruim (e aqui diferencia-se desempenho de resultado) de equipes que contratam os grandes destaques locais como Flamengo, Cruzeiro e Palmeiras. Todas essas poderiam jogar muito mais.

O Flamengo com todas as suas peças se retrancar contra o Fluminense é vergonhoso. Pelos elencos atuais, levando em conta também os desfalques tricolores, seria o mesmo que o Manchester City se retrancar contra o Southampton, por exemplo.

Muitos continuam batendo na tecla de que é um orgulho o nível de equilíbrio do campeonato brasileiro, mas isso é mentira. O equilíbrio se deve ao fato de que os melhores times não conseguem se tornar realmente times, com identidade, buscando jogar o seu melhor.

A recusa ao bom futebol só apequena nossas equipes e certas frases corriqueiras por aqui também contribuem para isso. “Libertadores é raça acima de tudo”. Por mais importante que seja ter raça, a técnica vem em primeiro lugar e as equipes brasileiras não conseguem se sair bem nas competições continentais por puro medo de jogar bola. Ou a equipe do Talleres é realmente melhor que a do São Paulo?  “Clássico é clássico, não tem favoritismo”. É claro que tem, por mais que haja uma disputa intensa e todos deem o máximo, a melhor equipe deve se sobressair na bola. O Flamengo tem um time superior aos outros grandes do Rio há alguns anos, mas sempre abdica do bom futebol nos confrontos diretos.

Esse ano torcerei para o bom desempenho do Fluminense de Diniz. Reconhecendo as limitações da equipe, espero que faça um bom trabalho e ajude a mudar a mentalidade do nosso futebol.