Pedro Werneck Brandão
Fonte: UOL Esporte
O Flamengo perdeu para o Fluminense por 1x0 o jogo de
ida da semifinal da Taça Guanabara. E perdeu porque quis. Nem o mais fanático
torcedor tricolor acha que sua equipe é superior no papel à do rival
rubro-negro, mas a superioridade não foi refletida dentro de campo. Longe
disso.
O
Flu comandado por Fernando Diniz jogou para frente, foi aguerrido e não abriu
mão do seu jogo de toque de bola. O Fla de Abel se defendeu completamente,
esperando pelo contra-ataque, contando com a vantagem do empate.
O jogo de hoje é mais uma entre tantas provas de que o
futebol brasileiro não vai para frente por conta da mentalidade dos técnicos.
Pouquíssimos tentam formar um time de verdade e que se propõe a jogar bola.
Apesar de muitos erros e nenhum título, eu me orgulhava do Fla dos últimos 2/3
anos por ser um dos poucos que pelo menos tentava jogar, sempre tendo mais
posse de bola e criando mais chances que o adversário. Agora, com Abel, nem
disso posso me orgulhar.
Por outro lado, Fernando Diniz tenta trazer para o
nosso futebol essa nova mentalidade, condizente com o que se é praticado nas
melhores ligas do mundo. No Atlético-PR teve altos e baixos, saiu por baixo,
mas deixou marcas reconhecidas por todos os atletas na conquista da
Sulamericana.
O Brasil, um dia reconhecido pelo futebol bonito, hoje
vai na contramão do resto mundo e insiste em treinadores que preferem “jogar
por uma bola”. E essa já é uma mentalidade tão enraizada por aqui que as próprias
conquistas nacionais não servem de parâmetro. Os defensores desse estilo de
jogo usarão o título do Brasileirão de Felipão com o Palmeiras ano passado ou o
de Carille com o Corinthians ano retrasado como justificativa, mas como se
comparar se ninguém tenta o contrário?
Os times grandes raramente tentam apostar em alguém
que dará uma nova cara, muito por medo de que dê errado. O resultado é uma liga
mal jogada, com partidas tenebrosas, na qual o menos pior levanta a taça.
A crise do futebol brasileiro não passa pelos jogadores,
e a prova está no desempenho ruim (e aqui diferencia-se desempenho de
resultado) de equipes que contratam os grandes destaques locais como Flamengo,
Cruzeiro e Palmeiras. Todas essas poderiam jogar muito mais.
O Flamengo com todas as suas peças se retrancar contra
o Fluminense é vergonhoso. Pelos elencos atuais, levando em conta também os desfalques
tricolores, seria o mesmo que o Manchester City se retrancar contra o Southampton,
por exemplo.
Muitos continuam batendo na tecla de que é um orgulho
o nível de equilíbrio do campeonato brasileiro, mas isso é mentira. O
equilíbrio se deve ao fato de que os melhores times não conseguem se tornar
realmente times, com identidade, buscando jogar o seu melhor.
A recusa ao bom futebol só apequena nossas equipes e
certas frases corriqueiras por aqui também contribuem para isso. “Libertadores
é raça acima de tudo”. Por mais importante que seja ter raça, a técnica vem em
primeiro lugar e as equipes brasileiras não conseguem se sair bem nas
competições continentais por puro medo de jogar bola. Ou a equipe do Talleres é
realmente melhor que a do São Paulo? “Clássico
é clássico, não tem favoritismo”. É claro que tem, por mais que haja uma
disputa intensa e todos deem o máximo, a melhor equipe deve se sobressair na
bola. O Flamengo tem um time superior aos outros grandes do Rio há alguns anos,
mas sempre abdica do bom futebol nos confrontos diretos.
Esse ano torcerei para o bom desempenho do Fluminense
de Diniz. Reconhecendo as limitações da equipe, espero que faça um bom trabalho
e ajude a mudar a mentalidade do nosso futebol.