sábado, 3 de junho de 2017

12 títulos e vários segredos

Imagem retirada do site El País


  O jogo mais esperado do ano chegou. Final da Champions League, jogo em que toda uma temporada se resume, a partida que reúne o melhor do esporte mais amado do mundo. Mais de 1 bilhão de espectadores ao redor de 200 países.

  Não há como contestar os participantes dessa final. Juventus, campeã do campeonato e da copa italiana. Apenas dois gols sofridos antes da final e nenhum deles na fase de mata-mata. Real Madrid superou o Barcelona e ganhou o campeonato espanhol, marcando gol em TODOS os jogos da temporada. 

  Os dois times chegaram em Cardiff tendo como principal característica a objetividade. Não são os times mais interessantes de se assistir, mas tem um plano de jogo muito bem definido e assim superaram todos os times que apareceram na frente.

  A Juve se consolidou como a melhor defesa da Europa, alternando o esquema com três ou dois zagueiros. Allegri também teve outras ideias surpreendentes que deram muito certo, como ao colocar o centroavante de área Mandzukic para jogar na ponta esquerda. O ataque também se saiu bem, sem precisar de muitas oportunidades para marcar gol, contando com a criatividade de Dybala e o oportunismo de Higuaín.

  O Real também teve uma defesa muito sólida, liderada pelo capitão Sergio Ramos. No ataque, também não precisa de tantas oportunidades para marcar, tendo um transição defesa-meio-ataque rápida e de muita qualidade.

  Os times repetiram na final a escalação mais usual ao longo da temporada. Os italianos com Buffon (para muitos, o melhor goleiro do século); Barzagli, Bonucci e Chiellini (três dos melhores zagueiros do mundo); Dani Alves (fazendo a temporada de maior destaque da carreira), Khedira (marcador impecável), Pjanic (passador preciso) e Alex Sandro (cresceu muito defensivamente e ofensivamente); Dybala (o mais técnico), Mandzukic (ajudando também na defesa) e Higuaín (o matador).

 Os espanhóis com Keylor Navas (ótimo goleiro, apesar de ter caído um pouco de produção); Carvajal (se firmando como um dos melhores da posição), Varane (zagueiro extremamente regular), Sergio Ramos (o líder) e Marcelo (fez outra temporada espetacular); Casemiro, Modric e Kroos (o melhor meio-campo do mundo disparado) e Isco (foi de jogador de elenco para titular incontestável durante a temporada); Cristiano Ronaldo (o craque) e Benzema (importantíssimo).

  Muitos fatores podem ser colocados, mas é a emoção que dita o ritmo de uma final desse porte. Assim foi nos últimos anos e sempre tende a ser. Por isso, é possível observar os times mais cautelosos, receosos de deixar espaços na defesa. 

  Essa cautela típica de final e as características das duas equipes marcaram bem os primeiros minutos de jogo. Até então, a Juve era superior, mas parecia fazer parte do plano madrilenho deixá-los com maior posse de bola. O time italiano fazia algo que começa a ser tendência no Velho Continente, três zagueiros quando o time tem a bola para ajudar na saída e linha de quatro no momento defensivo. Essa mudança se dava com Bonucci (no primeiro tempo) e Barzagli (no segundo tempo) fazendo a lateral-direita, com Chielini e um dos companheiros na zaga e Alex Sandro na esquerda. Daniel Alves ficava como ponta direita, voltando bastante, assim como Mandzukic, na hora de defender.

  A tática da Velha Senhora tinha tudo para ir por água baixo quando Cristiano Ronaldo abriu o placar aos 19 minutos. O atacante tabelou com Carvajal, que devolveu para trás na medida para ele mandar de primeira pro gol (ah se os laterais no Brasileirão fizessem isso ao invés de jogar a bola pra área sem olhar). Para felicidade de Allegri, Mandzukic empatou aos 26 com um gol daqueles, um golaço que vai ser repetido muitas vezes durante a semana. O croata acertou um voleio/bicicleta sensacional da entrada da área.

  O empate de volta ao placar também fez a cautela do começo do jogo voltar, o jogo ficando mais morno ainda até o fim do primeiro tempo. No segundo, o Real resolveu manter mais a posse de bola e deixar a Juve encurralada no campo defensivo. Aos 15, veio o gol do Real em um momento crucial da partida, Casemiro arriscou de muito longe, a bola desviou em Khedira e morreu nas redes. Logo depois, de novo aos 19, Ronaldo ampliou, se infiltrando entre os defensores, após cruzamento de Modric.

  Os dois gols de diferença a favor do Real Madrid acabaram com o jogo da Juve, pois os espanhóis são os melhores em cozinhar o jogo atualmente. Sempre que tiveram a vantagem, souberam administrar, pois sabem manter a bola, se defender bem e também têm um contra-ataque mortal.

  Na tentativa de ir pra cima, Allegri colocou Cuadrado, ponta direita, no lugar de Barzagli. Aos 26, o colombiano tomou cartão amarelo. Aos 38, encostou em Sergio Ramos, o espanhol valorizou absurdamente, originando o segundo amarelo do jogador da Juve e, consequentemente, o vermelho. A missão já fácil do Real ficou mais ainda.

  Para fechar a conta, já nos últimos minutos, Marcelo fez grande jogada e tocou para Asensio, que havia acabado de entrar, marcar (repito, ah se os laterais no Brasileirão fizessem isso ao invés de jogar a bola pra área sem olhar).

  A Juventus poderia ganhar, torci para isso inclusive. O motivo da minha torcida se deu, principalmente, para Buffon ganhar o título que falta em sua gloriosa carreira. Mas deu a lógica, e isso é inegável. O Real Madrid é o melhor time da Europa e mereceu demais seu décimo segundo título. O trio MSN é mais genial que o ataque madridista, mas como time, como conjunto, a equipe da capital espanhola está muito na frente de qualquer uma.

  Além de um plantel tão bom, o comandante dos campeões também é genial. Os méritos de Zizou não são poucos. Pode-se destacar o fato de ter usado todo o elenco para que os titulares pudessem chegar nessa final descansados. Outro grande destaque foi a mudança no futebol do Isco, jogador antes pouco objetivo e que jogou demais essa temporada. O meia assumiu a posição com a lesão de Bale e manteve tal condição com a sua volta (o galês ainda não estava 100%, é verdade). A titularidade do espanhol permitiu que os muito qualificados laterais do Real, Carvajal e Marcelo, virassem os verdadeiros pontas dessa equipe, firmando Cristiano Ronaldo como centroavante muito mais do que jogador de beirada, ao lado de Benzema.

  E não tem como terminar o texto sem falar especialmente do português. Quem me conhece, sabe que acho o Messi muito melhor do que ele, e assim sempre pensarei. Mas isso não tira o mérito de CR7, não faz com que ele não possa ser considerado um dos melhores da história e que tenhamos que agradecer a oportunidade de ver esses dois gênios da bola. Essa temporada, mais do que nunca, apareceu seu poder de decisão. Afinal, como contestar um cara que fez 5 gols contra o Bayern nas quartas, 3 contra o Atlético na semi e 2 contra a Juventus na final?



Pedro Werneck Brandão

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