domingo, 7 de janeiro de 2018

Despedida dolorosa

  Imagem retirada do site Independent.ie


  Meu irmão sempre gostou muito do Liverpool, então sempre que me perguntavam para que time eu torcia na Europa, eu respondia prontamente que eram os Reds. Mas foi apenas na temporada 2013/2014 que eu passei a torcer de verdade para o time inglês. Minha torcida coincidiu com a chegada de Phlippe Coutinho. 

  O time daquela temporada era espetacular. Eu não perdia um jogo sequer. Gerrard, capitão e maior ídolo do clube, jogando no meio com um quarteto ofensivo formado por Sterling, Coutinho, Sturridge e Suárez. Aprendi a cantar a música do Liverpool "You´ll never walk alone" e passei a entoar junto com a torcida antes dos jogos no Anfield, sempre ficando completamente arrepiado. Coisas do futebol, os Reds perderam aquele título praticamente certo.

  Ofuscado por um ano absurdo de Suárez e Sturridge, a torcida de cara gostou de Coutinho, mas ainda não era totalmente valorizado. Mas eu desde o começo já o achava um craque. O estilo de jogo dele valoriza tudo que admiro dentro do futebol: o drible, o toque de bola e o chute de fora da área.

  Me chamavam de maluco por dizer que ele jogava muito, por pedir ele na seleção desde aquela época, por falar que ele era mil vezes melhor que Oscar, William e Douglas Costa. Mas eu continuei repetindo o mesmo, e sabia que as pessoas não sabiam o tamanho do futebol dele, porque não assistiam os jogos. E hoje que todos valorizam ele, faço questão de falar "eu avisei" para cada um que discordou de mim e não viu o potencial do brasileiro.

  Na temporada 2014/2015, Suárez deixou o Liverpool rumo ao Barcelona e Sturridge sofreu muito com lesões. Comandado por Brendan Rodgers, o time foi muito mal na Champions, eliminado na fase de grupos. Mas em um time desorganizado e com poucos craques, o "Pequeno Mágico" começou a ganhar protagonismo.

  Porém foi na temporada seguinte que Coutinho, com a venda de Sterling e a aposentadoria de Gerrard, passou a carregar o time nas costas. Também se especializou em chutes de fora da área e cobranças de falta, sendo que no início da carreira tinha no chute uma de suas fraquezas. 

  E carregando o time nas costas, Coutinho não fez feio. Levou o time até a final da Europa League, na qual perdeu para o Sevilla. Nas oitavas, o time se classificou com um golaço decisivo do brasileiro contra o rival Manchester United. Nas quartas, eliminou o Borussia Dortmund virando um jogo de 3x1 para 4x3, em uma das melhores partidas que assisti na vida, um dos gols sendo marcado por ele. Na semi, passaram com facilidade pelo Villarreal. Pelo campeonato inglês, os Reds não conseguiram a classificação para a Champions League.

  Com Klopp já adaptado, o Liverpool teve uma temporada 2016/2017 muito consistente. O time ficou em quarto na Premier League e voltou à Champions. Apesar de sofrer com lesões, Coutinho obteve excelentes números, 13 gols e 7 assistências em 28 jogos.

  E chegamos à atual temporada. Com o time fortalecido, começou muito bem o campeonato inglês e passou pela fase de grupos da Champions com facilidade. Devido às lesões de Henderson e Milner quase sempre no banco, Coutinho ganhou o posto de capitão do time. Passou a ter definição completa de craque do time: "dez e braçadeira". Vinha tendo os melhores números da carreira, somando todas as competições, já eram 15 gols e 8 assistências em 23 jogos, uma participação direta por jogo.

  Em qualquer âmbito, sempre achei meio bobo essa idolatria por uma pessoa famosa. Fosse cantor(a), jogador(a) ou qualquer outra coisa. Mas depois de Coutinho, passei a ver isso de maneira diferente. Pelo futebol bonito, pela minha identificação com o jeito dele, discreto. Tudo contribuiu para que eu me tornasse mais do que fã dele. E fica mais fácil quando ele joga no time que você torce.

  Entendo a decisão dele de ir para o Barça, a maior possibilidade de ganhar títulos, a parceria com Messi e Suárez, esse segundo já amigo dele. Além disso, como ele ainda tem 25 anos, pode passar a ser o craque da equipe e quem sabe até melhor do mundo depois que esses dois craques ficarem mais velhos. Por outro lado, acho que poderia ter esperado até o final da temporada, já que não poderá jogar a Champions pelos catalães, por já ter disputado jogos com o Liverpool, e o título espanhol já estar praticamente garantido. Ficando na Inglaterra, poderia, quem sabe, fazer história dentro da competição européia sendo a estrela do time.

  Continuarei torcendo pelo Liverpool. Continuarei torcendo pelo sucesso de Coutinho. Mas não será a mesma coisa agora que essas duas torcidas estão separadas. Nunca imaginei que ficaria triste com uma transferência no futebol, mas fiquei, e muito.



Pedro Werneck Brandão

   

  

  

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