Os erros do Brasil nesses dois jogos

Um começo de olimpíadas terrível para o Brasil. Fácil achar erros no desempenho da seleção. Poderia, através desse texto, ir muito além do futebol apresentado e as decisões técnicas, falar de como a desorganização do país afeta nesse esporte, da corrupção da CBF, mas esse não será o foco. 

Após duas derrotas e um desempenho pífio é fácil apontar culpados para a decepção da seleção olímpica brasileira, mas é importante ressaltar que ela é formada por garotos com muito pouca experiência internacional. Por isso, eu diria que os maiores responsáveis são nosso principal jogador, Neymar, e o técnico Rogério Micale.

Vamos começar pela convocação do técnico brasileiro. Ele tinha direito à três vagas para jogadores acima de 23 anos, como foi decidido que essa seria a competição que Neymar jogaria, sobram 2. Rogério opta por um jogador da China (Renato Augusto) e um goleiro que não está entre os melhores do nosso país (Weverton). 

Era uma unanimidade que uma dessas duas vagas deveria ser preenchida por um goleiro, a primeira escolha foi Fernando Prass que, apesar de não ser o melhor que nós temos, é muito experiente e seria importante para comandar os garotos. Mantendo essa filosofia, após o corte de Fernando, faria sentido não convocar o jovem goleiro Alisson, atual titular da seleção principal. Então ele escolhe Weverton, goleiro do Atlético-PR que não é tão experiente, é um bom goleiro, mas pior do que muitos outros, como Marcelo Grohe (Grêmio), Victor (Atlético-MG) e Diego Alves (Valencia). É uma escolha um pouco sem sentido, mas o goleiro não foi o problema nesses dois jogos e é injusto focar nesse tópico. 

A discussão acerca da outra vaga para acima de 23 anos normalmente era se deveria ser um zagueiro como Thiago Silva ou um camisa 10, um meio-campista criativo. Na minha opinião, a melhor opção seria um zagueiro, levando o Gustavo Scarpa como opção no meio, mas como a defesa não falhou nos dois jogos, vamos falar das opções para armar as jogadas. Inicialmente, Rogério convocou Willian, pensando em utilizá-lo como camisa 10 que não é sua posição de origem, mas ele foi cortado. Renato Augusto se transferiu ano passado para a fraca liga chinesa, teoricamente abrindo mão da seleção brasileira e não é um jogador que faz tanta diferença assim, um bom jogador e somente. Mas apresentar críticas e nenhuma solução não é certo, então aqui vão dois nomes que seriam opções melhores: Phlippe Coutinho (candidato a melhor jogador do campeonato inglês na temporada 2014/2015, melhor jovem jogador do campeonato inglês na temporada 2015/2016 e eleito por jogadores e torcedores melhor jogador do Liverpool nas últimas duas temporadas) e Nenê (manteria a mesma filosofia da convocação do Prass, ou seja, um jogador velho e experiente, mas que nunca havia tido chance na seleção, está jogando demais pelo Vasco).

Outra grande falha na convocação foi quando Fred, jogador que atua como volante, meia e ponta foi cortado. Os outros meias convocados eram Felipe Anderson, Renato Augusto e Rafinha, já os volantes eram Thiago Maia e Rodrigo Dourado. Fred seria um jogador que contaria para as duas posições. Pelo número de jogadores em cada posição, o certo seria mesmo convocar mais um volante como fez Micale ao convocar o Wallace. O problema foi que o treinador resolveu utilizar Felipe Anderson como camisa 10 titular e Renato Augusto de segundo volante, pra piorar os dois volantes do banco de reservas são muito defensivos e as circunstâncias dos jogos obrigaram ele a colocar Rafinha também mais recuado, não sobrando nenhuma opção ofensiva para colocar além do atacante Luan. Se a decisão sobre posicionamento desses jogadores tivesse sido tomada antes, ele poderia ter convocado um jogador de frente como Vitinho (Internacional) ou Scarpa (Fluminense) ao invés de mais um volante.

Essa questão prejudicou diretamente nos jogos, vamos ver como. No jogo da África do Sul, o Brasil começou jogando com Weverton (Gol); Marquinhos e Rodrigo Caio (zaga); Zeca e Douglas Santos (laterais); Thiago Maia e Renato Augusto (volantes); Felipe Anderson (meia); Neymar, Gabigol e Jesus (ataque). Até os 15 minutos do segundo tempo, nada de gol e a África do Sul com um jogador a menos, então ele resolve colocar mais um atacante (Luan) no lugar do Felipe Anderson, colocando o jogador do Grêmio como armador, função que não sabe desempenhar, o esquema com 4 atacantes poderia dar certo, mas seria melhor com um jogador mais criativo como Gabriel Jesus ou Neymar fazendo aquela função. 21 minutos e o 0x0 persiste, então ele tira Renato muito mal no jogo e coloca outro jogador de mesma função, Rafinha, mantendo o primeiro volante Thiago Maia. Aos 40, Brasil ainda não tinha feito um gol, mas não tinha mais nenhuma opção ofensiva no banco, formado por um lateral, um zagueiro, um goleiro e dois volantes, por isso ele resolve colocar o lateral William no lugar do também lateral Douglas, não alterando em nada a equipe. 

No segundo jogo, o panorama foi praticamente o mesmo. Brasil favorito, tinha obrigação de ganhar do Iraque, assim como devia ter ganhado da equipe africana. Rogério Micale mandou ao campo os mesmos jogadores, com o mesmo esquema. Até os 30 minutos, a seleção brasileira não havia criado quase nada, mas a partir daí começou a pressionar e o gol não saiu por detalhe. Gabigol chamou o jogo e criou algumas jogadas, Felipe Anderson botou Gabriel Jesus duas vezes na cara do gol, mas ele perdeu, já Neymar e Renato Augusto não fizeram nada. Então no intervalo, o treinador repete a mudança do primeiro jogo (sai Felipe, entra Luan), tirando o jogador que estava sendo mais criativo e botando um jogador numa função que não sabe desempenhar, podendo tirar Jesus que estava tendo uma noite para esquecer. Aos 10 minutos, ele percebeu a besteira que tinha feito e colocou Rafinha no lugar de Gabriel, entrando como segundo volante, com Renato Augusto agora mais avançado. A seleção parou de criar e novamente, na ausência de jogadores ofensivos, o lateral William substituiu Douglas e apesar de entrar bem, o 0 não saiu do placar. 

Outro ponto que me chamou muita atenção foi a falta de jogadas criadas entre Felipe Anderson/Luan, Gabriel Jesus, Gabigol e Neymar. Todos são jogadores rápidos e habilidosos, se tabelas entre eles fossem mais exploradas poderíamos ter criado muito mais chances. Exemplo disso que a principal jogada era bola na área para o Neymar (1,74m). Se isso aconteceu por falta de treinamento do Micale ou simplesmente culpa dos jogadores não posso julgar.

Antes de terminar esse texto, é preciso falar sobre Neymar. A decisão do Dunga na equipe principal antes de ser demitido e agora de Rogério na olímpica de dar a braçadeira de capitão para esse jogador já é bem questionável, tendo em vista que ele tem apenas 24 anos e não é de hoje que costuma perder a cabeça durante os jogos. Mesmo assim, hoje ele não liderou o time de maneira alguma, não chamando atenção dos companheiros ou tirando eles da briga (coisa que o inexperiente Luan fez alguma vezes).

Desde a Copa América de 2015, todo jogo da seleção brasileira (principal e agora olímpica) parece que estou tendo um Déjà Vú quanto ao Neymar, ele sempre pede a bola, é partipativo, mas vai mal tecnicamente. Um jogador que está entre os melhores do mundo (e que sou fã, por sinal) não pode cometer os erros que vem cometendo. Se ele brilha contra Real Madrid e Bayern não pode passar em branco contra África do Sul e Iraque, ambas sub-23. 

Deixando claro que admiro a filosofia ofensiva do treinador Rogério Micale e gostei do seu trabalho no Mundial sub-20, porém ele cometeu erros graves. Espero que a seleção conserte tudo o que fez de errado e evolua nos próximos jogos para assim ter chance de conquistar o ouro e dar alegria para sua torcida que nunca perde as esperanças.


Pedro Werneck Brandão