segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Racismo na NBA

Imagem: ESPN

O basquete nos Estados Unidos hoje é indiscutivelmente um esporte majoritariamente negro. Por mais que no início da criação da principal liga de basquete mundial, a NBA, grande parte dos jogadores e torcedores fossem brancos, essa situação foi mudando radicalmente ao longo da história. 

Isso pode ter ocorrido pelo fato de ser um esporte que não necessita de grandes materiais, apenas uma bola e uma cesta já permitem sua prática, e pode ser jogado como forma de diversão por qualquer número de pessoas, o que levou a uma rápida adoração por parte dos fãs nas periferias estadunidenses. Além disso, a altura é um dos requisitos, hoje muito menos que antes, para se jogar profissionalmente, e a população negra no país tem um percentual de pessoas altas maior. 

Esses fatores levaram hoje a uma NBA negra, mais de 80% dos jogadores são negros, além de cerca de 65% dos fãs, de acordo com o site Quora. O esporte com certeza foi essencial para a luta dessa população que sofre com o racismo nesse país desde seus primórdios, surgindo figuras negras extremamente representativas, que mostram um grande poder de superação, como o maior astro da liga LeBron James, que sempre faz questão de se posicionar acerca das lutas raciais. 

Mesmo assim, não são os negros que comandam o basquete estadunidense. Entre as 30 franquias que disputam a principal liga, apenas um dono majoritário é negro, o melhor jogador da história do esporte, Michael Jordan, dono do Charlotte Hornets. 

Além da diferença nos números, o próprio termo soa estranho. Draymond Green, um dos principais jogadores do Golden State Warriors, se posicionou sobre o assunto. Ele disse que não gosta dessa palavra e que os jogadores não pertencem a ninguém. Conhecido como um jogador emocionalmente instável, que facilmente se estressa dentro e fora de quadra, tais palavras foram vistas como exageradas. O dono da franquia Dallas Mavericks foi um dos que viu dessa forma e se envolveu em grande discussão com Green.

No começo, eu também vi aquilo como um exagero. Esses “donos” de fato compraram as franquias. Mas, parando para pensar, lembrando que quase 90% dos jogadores são negros, e essa população foi escravizada por tantos anos, dizer que eles pertencem a alguém não soa nada bem.

A problematização de Green ganha ainda mais força quando pensamos na maneira que os jogadores são tratados. Diferente de outros esportes, o jogador da NBA não tem poder de escolha em relação ao clube que jogará. No início do ano, os novos astros são escolhidos pelos clubes em um evento chamado draft. Durante o contrato dos mesmos, eles podem ser trocados para outra franquia se os donos quiserem, independente da opinião dos mesmos.

Tal política causou grande discussão no mês passado, quando dois dos principais jogadores da liga, DeMar DeRozan e Kawhi Leonard, foram trocados. Os dois declararam que não queriam ter ido para as franquias que foram, mas simplesmente não puderam escolher.

Os números de que 65% dos fãs da NBA são negros também é estranho quando olhamos a torcida nos estádios da NBA. A grande maioria é branca. Procurei pesquisas que pudessem comprovar isso, mas não consegui achar em lugar nenhum. Porém basta olhar para o público durante os jogos e tal situação fica evidente.

Por que mais gente branca do que negra nas arquibancadas se existem mais torcedores negros? Por conta do alto preço dos ingressos, que evidencia a discrepância do salário recebido entre negros e brancos nos Estados Unidos.

Essa discussão ainda precisa ganhar muito mais força, algo comprovado pela falta de pesquisas acerca de tal.  O basquete é dito como importantíssimo para a superação das diferenças raciais, e realmente é, mas continua evidenciando o racismo nos Estados Unidos. No final das contas, são pessoas brancas comandando jogadores negros, decidindo seus destinos, para que outras pessoas também brancas possam se entreter.

O famoso jornal “The Washington Post” fez um artigo chamado “Nas quadras da NBA, a minoria comanda”. Nele, a situação dos jogadores dentro da liga foi dita como oposta à do mercado de trabalho, com predominância negra e mais prestígio deles inclusive. O técnico do Golden State Warriors, Steve Kerr, fez questão de ressaltar que: “Ao mesmo tempo, nós estamos vivendo uma situação utópica, na qual todo mundo está bem financeiramente. E você não tem o mesmo tipo de competição racial que existe de sobra no mundo do trabalho”.



Pedro Werneck Brandão 

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