Imagem: ESPN
O
basquete nos Estados Unidos hoje é indiscutivelmente um esporte
majoritariamente negro. Por mais que no início da criação da principal liga de
basquete mundial, a NBA, grande parte dos jogadores e torcedores fossem
brancos, essa situação foi mudando radicalmente ao longo da história.
Isso pode ter
ocorrido pelo fato de ser um esporte que não necessita de grandes materiais, apenas
uma bola e uma cesta já permitem sua prática, e pode ser jogado como forma de
diversão por qualquer número de pessoas, o que levou a uma rápida adoração por
parte dos fãs nas periferias estadunidenses. Além disso, a altura é um dos
requisitos, hoje muito menos que antes, para se jogar profissionalmente, e a
população negra no país tem um percentual de pessoas altas maior.
Esses fatores
levaram hoje a uma NBA negra, mais de 80% dos jogadores são negros, além de
cerca de 65% dos fãs, de acordo com o site Quora. O esporte com certeza foi
essencial para a luta dessa população que sofre com o racismo nesse país desde
seus primórdios, surgindo figuras negras extremamente representativas, que
mostram um grande poder de superação, como o maior astro da liga LeBron James,
que sempre faz questão de se posicionar acerca das lutas raciais.
Mesmo assim,
não são os negros que comandam o basquete estadunidense. Entre as 30 franquias
que disputam a principal liga, apenas um dono majoritário é negro, o melhor
jogador da história do esporte, Michael Jordan, dono do Charlotte
Hornets.
Além
da diferença nos números, o próprio termo soa estranho. Draymond Green, um dos
principais jogadores do Golden State Warriors, se posicionou sobre o assunto.
Ele disse que não gosta dessa palavra e que os jogadores não pertencem a
ninguém. Conhecido como um jogador emocionalmente instável, que facilmente se
estressa dentro e fora de quadra, tais palavras foram vistas como exageradas. O
dono da franquia Dallas Mavericks foi um dos que viu dessa forma e se envolveu
em grande discussão com Green.
No
começo, eu também vi aquilo como um exagero. Esses “donos” de fato compraram as
franquias. Mas, parando para pensar, lembrando que quase 90% dos jogadores são
negros, e essa população foi escravizada por tantos anos, dizer que eles pertencem
a alguém não soa nada bem.
A
problematização de Green ganha ainda mais força quando pensamos na maneira que
os jogadores são tratados. Diferente de outros esportes, o jogador da NBA não
tem poder de escolha em relação ao clube que jogará. No início do ano, os novos
astros são escolhidos pelos clubes em um evento chamado draft. Durante o
contrato dos mesmos, eles podem ser trocados para outra franquia se os donos quiserem,
independente da opinião dos mesmos.
Tal
política causou grande discussão no mês passado, quando dois dos principais
jogadores da liga, DeMar DeRozan e Kawhi Leonard, foram trocados. Os dois
declararam que não queriam ter ido para as franquias que foram, mas
simplesmente não puderam escolher.
Os
números de que 65% dos fãs da NBA são negros também é estranho quando olhamos a
torcida nos estádios da NBA. A grande maioria é branca. Procurei pesquisas que
pudessem comprovar isso, mas não consegui achar em lugar nenhum. Porém basta
olhar para o público durante os jogos e tal situação fica evidente.
Por
que mais gente branca do que negra nas arquibancadas se existem mais torcedores
negros? Por conta do alto preço dos ingressos, que evidencia a discrepância do salário
recebido entre negros e brancos nos Estados Unidos.
Essa
discussão ainda precisa ganhar muito mais força, algo comprovado pela falta de
pesquisas acerca de tal. O basquete é dito
como importantíssimo para a superação das diferenças raciais, e realmente é, mas
continua evidenciando o racismo nos Estados Unidos. No final das contas, são
pessoas brancas comandando jogadores negros, decidindo seus destinos, para que
outras pessoas também brancas possam se entreter.
O
famoso jornal “The Washington Post” fez um artigo chamado “Nas quadras da NBA,
a minoria comanda”. Nele, a situação dos jogadores dentro da liga foi dita como
oposta à do mercado de trabalho, com predominância negra e mais prestígio deles
inclusive. O técnico do Golden State Warriors, Steve Kerr, fez questão de
ressaltar que: “Ao mesmo tempo, nós estamos vivendo uma situação utópica, na
qual todo mundo está bem financeiramente. E você não tem o mesmo tipo de competição
racial que existe de sobra no mundo do trabalho”.
Pedro Werneck Brandão
Excelente reflexão, Pedro. Gostei muito.
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