Pedro Werneck Brandão
Fonte: Twitter/Mundo ESPN
O Paris
Saint-Germainn foi eliminado de maneira inacreditável para o Manchester United,
perdendo por 3x1 dentro de seu estádio. Em um jogo de falhas individuais
gritantes de jogadores parisienses, bastou rolar algumas vezes a tela pelas
principais redes sociais para identificar que o nome do ausente Neymar era mais
falado do que dos 14 (contando os que entraram) atletas que de fato disputaram
a partida pela equipe francesa.
Não é
nenhuma novidade que o nome de Neymar seja citado frequentemente pela mídia. Um
espirro da estrela brasileira vira notícia de urgência dentro da nossa imprensa.
O apelido de “Neymídia” cai perfeitamente, não no sentido de que ele é “só
mídia”, pelo contrário, é um craque absurdo dentro de campo e isso não pode ser
discutido, mas sim por ter se tornado uma grande celebridade.
O
ex-jogador e comentarista da Band, Neto, inclusive, falou exatamente isso
durante a celebração do Carnaval, que Neymar havia se tornado uma celebridade,
mais do que um jogador de futebol. E justamente o fato de Ney ter celebrado o Carnaval
aqui no Brasil durante a última semana gerou muita polêmica.
Ainda se
recuperando da lesão que o tirou dos últimos jogos do Paris, o atleta veio ao
seu país de origem celebrar o Carnaval. A atitude já foi criticada por si só,
mas um vídeo específico, que mostra o brasileiro dançando durante um desfile,
piorou a situação. Muitos questionaram se a atitude era correta para alguém se
recuperando de lesão e os mais fantasiosos até mesmo duvidaram da lesão do
craque, acusando-o de fingimento e chamando-o de pipoqueiro. Essa teoria,
convenhamos, não é nada crível.
Sinceramente,
eu não sou médico, e não tenho como dar nenhuma opinião sobre o que Neymar
podia ou não fazer no sentido de não atrapalhar sua recuperação. De todo jeito,
o camisa 10 da nossa seleção ainda tinha o alívio do conforto vivido por sua equipe,
sobrando no campeonato e tendo construído uma grande vantagem fora de casa na
Champions League. Ele não poderia passar a imagem, então, de estar rindo à toa
durante uma má fase de sua equipe.
Inexplicavelmente,
porém, a eliminação do PSG parece ter dado uma falsa ideia de que a má fase da
equipe francesa já existisse e o tom das críticas a celebração do Carnaval por
parte de Ney aumentasse consideravelmente.
O
comportamento de Neymar ao final do jogo, o qual assistia da beira do campo, atacando
a arbitragem veemente também foi um prato de mão cheia para os haters o chamarem de mimado, o que não é
nenhuma novidade.
O motivo
desse texto, entretanto, é justamente questionar todas essas discussões nesse
momento. O PSG acaba de sofrer uma eliminação V-E-R-G-O-N-H-O-S-A e só se fala
de um jogador que não entrou em campo. Muito mais, inclusive, do que das falhas
de Buffon e Kehrer e dos gols perdidos por Mbappé.
Se tudo
isso me faz reafirmar a figura midiática que é Neymar, também me faz
identificar fortemente uma mudança na imagem do brasileiro. Quando os críticos
o chamavam insistentemente de “Neymídia” era justamente por acusarem-no de não
ser um jogador tão qualificado quanto a mídia dizia, questionando o fato de ser
extremamente enaltecido. Hoje a realidade parece ter mudado e a imprensa parece
contribuir cada vez mais para a mudança da imagem de Neymar de herói para
vilão.
Os fracassos
do craque com a seleção brasileira aumentaram muito o número daqueles que
simplesmente odeiam-no. A mídia, de maneira geral, percebeu isso e viu que conseguiria
mais repercussão reforçando isso do que se colocando como defensora
inquestionável do nosso melhor jogador.
O momento
para tal mudança de postura não poderia ser mais oportuno: imagem de cai-cai na
Copa do Mundo, lesões coincidindo com momentos importantes de suas equipes e
grandes exibições de Mbappé, que criou o discurso ridículo de que Neymar saiu
da sombra de Messi para entrar na do francês.
Hoje foi o
dia mais fácil de identificar tal modificação pela repercussão da eliminação
colocando Neymar em destaque de uma maneira bem diferente. Poucos anos atrás, o
brasileiro seria igualmente destacado em situação parecida, mas provavelmente
em algo como: “PSG sente ausência de Neymar e é derrotador pelo Manchester
United”. Dessa vez, porém, o camisa 10 apareceu mais como a imagem de um PSG
fracassado. A manchete abaixo da ESPN cai como uma luva na minha argumentação:
Talvez meu
texto seja um pouco contraditório, escrevendo sobre Neymar e não sobre o jogo
em si justamente para criticar a grande mídia esportiva por fazer o mesmo. Jogo
esse que foi eletrizante, qualificado, e ofereceu tudo que o futebol tem de
melhor a oferecer. Deixo como minha parte, porém, uma manchete mais justa para
a partida de hoje: “Em jogo sensacional, United faz milagre nos acréscimos e
elimina o PSG em pleno Parques dos Príncipes”.