terça-feira, 23 de maio de 2017

Destaques individuais Premier League 16/17

  Depois de mais uma temporada espetacular, a Premier League 2016/17 chegou ao fim. Nesse texto reunirei algumas das principais estatísticas e meus destaques individuais.



  Para começar, minha seleção do campeonato:

  

  GOL: De Gea (Manchester United): Apesar de ter terminado em sexto, os Red Devils tiveram a segunda melhor defesa do campeonato. Muito disso se deve ao fato de ter um verdadeiro paredão no gol. O espanhol colecionou defesas espetaculares e vai se firmando como um dos melhores do mundo na posição.

  LD: Coleman (Everton): Temporada após temporada, o lateral do Everton é apontado como um dos melhores do campeonato. O irlandês é muito sólido defensivamente e ainda participa do ataque, incluindo 4 gols e 3 assistências.

  ZAG: David Luiz (Chelsea): Jogando como terceiro zagueiro, com mais liberdade que o normal, o brasileiro alcançou sua melhor fase na carreira. Foi um dos pilares do ótimo sistema defensivo dos Blues.

  ZAG: Alderweireld (Tottenham): Mais difícil que escrever seu nome, é passar por ele. O belga vem evoluindo como jogador a cada temporada. É um dos zagueiros mais seguros da liga.

  LE: Azpilicueta (Chelsea): Lateral esquerdo de origem, o destro Azpilicueta atuou como zagueiro pela direita no esquema de 3 defensores de Antonio Conte. Além de se destacar muito defensivamente e ter atuado em TODOS os minutos da competição, o jogador foi o que acertou mais passes no campeonato e o segundo que mais tocou na bola.

  VOL: Kanté (Chelsea): Eleito melhor do campeonato pela federação inglesa e pelos torcedores, o volante dispensa comentários. O francês não só desarma o tempo todo, como em todos lugares do campo. Com a bola nos pés não fica atrás, sempre com muita qualidade. O jogador obteve o feito espetacular de ganhar o campeonato mais difícil mundo duas vezes seguidas por dois times diferentes: Leicester e agora o Chelsea.

  MC: Ander Herrera (Manchester United): Jogando ao lado de Pogba, o espanhol conseguiu ser o maior destaque do meio-campo do United. Pouco valorizado, o jogador tem ótimo rendimento defensivo e ofensivo. Desarmou 84 vezes no campeonato, teve média de 67 passes por jogo (com 87% de aproveitamento), fez 1 gol e deu 6 assistências.

  MEI: Dele Alli (Tottenham): O jovem dos Spurs é outro que vem impressionando cada vez mais. Muito versátil, podendo atuar pelo lado e como meia tanto mais recuado quanto mais adiantado. Esse ano se destacou também pelo faro artilheiro, foram 18 gols, além de 7 assistências.

  MD: Hazard (Chelsea): O belga não tem números tão expressivos quanto de outros jogadores de frente, mas não deixa de ter sido um dos craques do campeonato. Puxando os contra-ataques dos Blues, foi importantíssimo para sempre quebrar a defesa adversária.


  ME: Sánchez (Arsenal): Em uma temporada fraca do time do Arsenal, o chileno carregou o time nas costas. Chamou a responsabilidade em todos os jogos, acumulando incríveis 24 gols e 10 assistências.

  ATA: Harry Kane (Tottenham): Mesmo ficando 2 meses fora por lesão, o atacante ainda terminou como artilheiro do campeonato. O incrível número de 1,2 participações diretas em gol/90 minutos mostra a qualidade absurda desse centroavante.
  

  E a seleção reserva:


  GOL: Courtois (Chelsea): Entre muitos goleiros de qualidade, como Lloris e Cech, tive dificuldade para escolher o segundo melhor da posição. Apesar de menos exigido do que outros, o belga foi bem demais quando necessário e provou por que é disputado por todos os gigantes europeus.

  LD: Walker (Tottenham): Walker sempre se destacou pela força ofensiva, principalmente na velocidade e na capacidade de cruzamento, as 5 assistências mostram que manteve isso. Mas esse ano também evoluiu muito como defensor, fazendo parte da defesa menos vazada do campeonato e contribuindo com 72 desarmes ao longo da competição.

  ZAG: Cahill (Chelsea): O zagueiro dos Blues já se mostra muito seguro e regular há algumas temporadas. Talvez não tenha tido o mesmo destaque dos dois companheiros de zaga, mas foi tão importante quanto. 

  ZAG: Vertonghen (Tottenham): Também foi uma decisão muito difícil deixar esse jogador fora da seleção titular. O belga fez um campeonato maravilhoso e formou uma baita dupla de zaga com o compatriota Alderweireld.

  LE: Rose (Tottenham): O lateral esquerdo só jogou metade da temporada, devido a uma lesão que o tirou da parte final. Mesmo assim, foi importantíssimo durante esse período, sendo muito elogiado pela imprensa inglesa, principalmente por conta da evolução, já que anteriormente não era unanimidade.

  VOL: Gueye (Everton): Craig Shakespeare, técnico do Leicester, apontou o jogador como o mais parecido com Kanté, e está correto. As características são as mesmas: fantástico nos roubos de bola e aparecendo muito bem na frente. O senegalês, inclusive, foi quem mais desarmou na temporada, superando os números também impressionantes do francês.

  MEI: Eriksen (Tottenham): Meia clássico, o dinamarquês tem ótima visão de jogo e é imprescindível para a dinâmica do time do Tottenham. Os 8 gols e 15 assistências mostram bem a qualidade do jogador.

  MEI: De Bruyne (Manchester City): Principal jogador do City, o meia atuou em diferentes funções, mas sempre com a mesma qualidade. As 18 assistências são uma marca muito expressiva, algumas delas maravilhosas. 

  MD: Mané (Liverpool): O senegalês vinha fazendo temporada espetacular, a melhor da carreira disparada. Depois do principal jogador do time, Coutinho, se machucar, teve que assumir a responsabilidade e fez bonito. Os 13 gols e as 5 assistências provam que o alto investimento dos Reds na sua contratação valeu a pena.

  ME: Coutinho (Liverpool): O pequeno mágico começou a temporada voando. Na metade, porém, sofreu uma lesão que o tirou dos gramados por um bom tempo. Logo depois de voltar, teve um pouco de dificuldade e não aguentava jogar uma partida completa. No final, voltou a crescer muito de produção e, na ausência de Mané, carregou o time nas costas em alguns momentos. Continuou marcando muitos golaços, sendo essa sua temporada mais artilheira, com 13 gols. Além dos gols, deu 7 assistências. Foi o principal nome da classificação da equipe para a Champions, a grande questão é se ficará para a próxima temporada ou irá para o Barcelona.

  ATA: Lukaku (Everton): O Everton fez uma temporada muito boa, terminando na 7ª colocação, e grande parte disso deve-se ao seu centroavante. O belga fez 25 gols, vice-artilheiro da competição, e chamou a responsabilidade nos momentos mais difíceis. 


Minhas premiações:

  Melhor jogador: Kanté (Chelsea)
  
  Melhor técnico: Antonio Conte (Chelsea)

  Gols mais bonitos:















  Artilheiros:

  1º lugar: Harry Kane (Tottenham)- 29 gols
  2º lugar: Lukaku (Everton)- 25 gols
  3º lugar: Sánchez (Arsenal)- 24 gols
  4º lugar: Agüero (Manchester City)- 20 gols
  4º lugar: Diego Costa (Chelsea)- 20 gols

  Garçons: 

  1º lugar: De Bruyne (Manchester City)- 18 assistências
  2º lugar: Eriksen (Tottenham)- 15 assistências
  3º lugar: Sigurdsson (Swansea)- 13 assistências
  4º lugar: Fàbregas (Chelsea)- 12 assistências
  5º lugar: Sánchez (Arsenal)- 10 assistências

  Luva de ouro (mais jogos sem sofrer gol):

  1º lugar: Courtois (Chelsea)- 16 jogos
  2º lugar: Lloris (Tottenham)- 15 jogos
  3º lugar: De Gea (Manchester United)- 14 jogos
  3º lugar: Fraser Foster (Southampton)- 14 jogos
  5º lugar: Cech (Arsenal)- 12 jogos
  
   Ladrão de bolas:

  1º lugar: Gueye (Everton)- 135 desarmes
  2º lugar: Kanté (Chelsea)- 127 desarmes
  3º lugar: Oriol Romeu (Southampton)- 117 desarmes
  4º lugar: Erik Pieters (Stoke City)- 106 desarmes
  5º lugar: Lowton (Burnley)- 101 desarmes

  Desarmes recebidos:

  1º lugar: Sánchez (Arsenal)- 128 desarmes recebidos
  1º lugar: Zaha (Crystal Palace)- 128 desarmes recebidos
  3º lugar: Diego Costa (Chelsea)- 120 desarmes recebidos
  4º lugar: Rondón (West Bromwich)- 108 desarmes recebidos
  5º lugar: Ross Barkley (Everton)- 97 desarmes recebidos

  Mais participações diretas em gol (gol ou assitência)/90 minutos:

  1º lugar: Harry Kane (Tottenham)- 1,281par/90mins
  2º lugar: Fàbregas (Chelsea)- 1,152par/90mins
  3º lugar: Sánchez (Arsenal)- 0,949par/90mins
  4º lugar: Son Heung Min (Tottenham)- 0,869par/90mins
  5º lugar: Agüero (Manchester City)- 0,861par/90mins
  6º lugar: Lukaku (Everton)- 0,854par/90mins
  7º lugar: Ibrahimovic (Manchester United)- 0,814par/90mins
  8º lugar: Phlippe Coutinho (Liverpool)- 0,803par/90mins
  9º lugar: Diego Costa (Chelsea)- 0,787par/90mins
  10º lugar: Pedro (Chelsea)- 0,776par/90mins

  *Só foram colocados jogadores com pelo menos 1200 miutos
  



Pedro Werneck Brandão

  

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Inglaterra azul

  

  Com duas rodadas de antecedência, o Chelsea se sagrou campeão inglês. Depois de uma temporada 2015/2016 horrível, o time deu a volta por cima e ganhou o título de forma incontestável. 

  O técnico italiano Conte assumiu o time na vaga de Mourinho, que foi para o Manchester United. A primeira ideia do treinador foi montar o time em um 4-2-3-1 básico, mas depois de um empate com o Swansea e uma derrota em casa para o Liverpool, ele decidiu colocar o esquema que ele está acostumado a usar em seus times, um 3-4-3. Raro no futebol inglês e muitas vezes questionado, o esquema com três zagueiros deu absurdamente certo.

  Chega a ser até curioso que inicialmente Conte não pensou no time nesse esquema, porque as peças acabaram se encaixando perfeitamente na forma de jogar. Ele conseguiu achar o lugar perfeito até mesmo para os jogadores mais questionados. O time titular em quase todos os jogos foi: Courtois; Azpilicueta, David Luiz e Cahill; Moses, Matic, Kanté e Marcos Alonso; Hazard, Pedro (ou Willian) e Diego Costa. 

  Todos os jogadores dos Blues se destacaram de alguma forma. Courtois fechando o gol, Kanté um monstro no meio-campo (eleito melhor do campeonato inclusive), Hazard criando todas as jogadas e Diego Costa sendo o matador de sempre. Porém meu destaque vai para os atletas que subiram de produção principalmente pela posição achada por Conte.

  Azpilicueta é meu primeiro destaque. Até temporada passada, o espanhol jogava tanto de lateral esquerdo quanto de direito. O maior destaque dele sempre foi o momento defensivo, tanto que já em 2014 os ex-jogadores Gary Neville (lateral do Manchester United) e Jamie Carragher (zagueiro do Liverpool) apontaram-no como melhor defensor do campeonato. Eu mesmo já imaginei várias vezes que ele também daria um ótimo zagueiro. Observando tudo isso, o treinador resolveu justamente coloca-lo nessa posição, mas, por ter mais dois companheiros de zaga, sua estatura não comprometeu no jogo aéreo. Candidato a melhor jogador do campeonato na votação online, além do destaque defensivo, César foi o jogador que mais acertou passes e o segundo que mais tocou na bola durante a temporada.

  O segundo destaque vai para David Luiz. Quando o zagueiro voltou ao Chelsea a pedido de Conte, eu critiquei muito a contratação. Mas o zagueiro calou minha boca. Isso porque o técnico conseguiu achar a única posição dentro de campo que esconde todos os defeitos do jogador e aproveita todas as suas qualidades. O brasileiro é o terceiro zagueiro, jogando centralizado e um pouco mais adiantado, com liberdade para sair para disputar as bolas no jogo aéreo e no chão. Além disso, também pode sair mais com a bola para ajudar na armação, coisa que, quando jogando com só um companheiro de zaga, comprometia o time.

  Por último, quero destacar também Victor Moses. O ponta sempre se destacou pelo vigor físico, mas nunca foi tão habilidoso. Por isso, vinha sendo emprestado sucessivamente. Esse vigor físico foi imprescindível para jogar de ala direito, atacando e defendendo com a mesma intensidade, se transformando em uma das principais válvulas de escape dos Blues.

  Esse time do Chelsea pode não ser o mais bonito de se ver jogar, mas não tem contestar uma equipe que ganha 30 de 38 jogos, acumula 93 pontos e tem 81,6% de aproveitamento. O segundo lugar Tottenham teve 86 pontos, poderia ter sido campeão com essa pontuação em outros campeonatos facilmente. 

  A equipe azul de Londres se solidificou como um time muito chato de se enfrentar. Um sistema defensivo muito difícil de se parar, capacidade de manter a posse de bola quando necessário e um contra-ataque mortal, sempre puxado pelo craque Eden Hazard.

  Conte conseguiu mostrar que talvez seja mais fácil o time se adaptar ao esquema do técnico do que o técnico se adaptar ao esquema do time. Jogando dentro de sua zona de conforto, o italiano foi contra o padrão do campeonato inglês e dificultou a vida de todos os adversários.



Pedro Werneck Brandão

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Time gigante, mentalidade pequena

Imagem retirada do site Gazeta Esportiva
  

  Vergonhosa. Essa é a palavra que melhor define a eliminação do Flamengo. O time chegou no último jogo precisando apenas não perder, e mesmo assim, só seria eliminado se o Atlético Paranaense ganhasse. 

  Além do fato de chegar em melhor situação na última rodada, o time rubro negro mostrou ao longo da fase de grupos ser o melhor com sobras. Até pelo nível de investimento, o favoritismo ficou bem evidente, mesmo o grupo sendo realmente o mais complicado da Libertadores.

  É importante ressaltar que essa não foi a primeira derrota do time na competição, o time viveu altos e baixos. No primeiro jogo, 4x0 no San Lorenzo com facilidade. No segundo, se retrancou contra a Universidad Católica e perdeu por 1x0 quase não criando. No terceiro, vitória por 2x1 contra o Atlético, em atuação razoável. Depois disso, derrota para o Furacão por 2x1 em atuação que começou ruim e só ficou boa quando o time teve que buscar o resultado. Jogando de novo no Maraca, mais uma grande vitória, 3x1 no Universidad Católica. E hoje, derrota por 2x1 para os argentinos.

  Três derrotas fora de casa. O peso da torcida não é o único motivo para isso, e diria que nem mesmo o principal. O problema foi a atitude do time. Com um time superior, não era necessário entrar de maneira tão defensiva nesses jogos, mas o fez. A derrota no Chile já deveria ter servido de aprendizado, porém o erro foi repetido.

  É verdade que, diferentemente dos outros dois jogos fora de casa, o Fla não entrou com três volantes, mas a atitude defensiva foi a mesma. O gol aos 15 minutos, em chute de fora da área de Rodinei, contribuiu para esse comportamento. No primeiro tempo, deu a bola, o San Lorenzo não criou e o Fla só teve um ou outro contra-ataque.

  No segundo tempo, a mentalidade de time minúsculo foi maior ainda, principalmente com a entrada de Rômulo no lugar de Berrío, aos 14. O San Lorenzo não criava, mas a partir do momento que toda bola perdida era devolvida a eles, as chances de gol aumentavam. Os argentinos passaram a só jogar bola na área, o que mostra uma falta de criatividade, porém ao deixar isso acontecer mil vezes, é lógico que o gol sairia.

  Aos 28, Matheus Sávio entrou no lugar de Gabriel. A substituição até fazia sentido, já que o titular não criava nada, mas não dá para entender a ausência de Mancuello no banco e a presença de um garoto ainda inexperiente. E o próprio perdeu a bola em seguida, originando o primeiro do San Lorenzo.

  Depois disso, 15 minutos de bola na área do time argentino. Aos 43, o zagueiro Juan entrou no lugar de Éverton inclusive. A imagem mais clara de que o Fla abdicou de jogar foi que quando Alex Muralha foi bater o tiro de meta, os 10 jogadores de linha ficaram no campo de defesa e deixaram ele chutar na direção do campo adversário. Aos 47, a bola finalmente entrou e castigou a nação rubro negra.

  O grande ponto é que Zé Ricardo já deveria ter aprendido durante a competição é que não existe apenas a possibilidade de se retrancar jogando fora de casa. No jogo do Chile, o Fla poderia facilmente ter ganhado se partisse para cima. Hoje poderia ter tocado a bola, poderia ter mandado o Guerrero segurar na bandeirinha de escanteio, mas não apenas esperar e torcer para a bola não entrar.

  A vitória do Atlético Paranaense na última rodada foi surpreendente. A lesão de Diego custou caro, ele poderia ter sido o jogador para segurar a bola nesse jogo. Mas mesmo com todos esses fatores a eliminação é ridícula.

  Zé Ricardo deve receber um baita esporro e entender que o gigante Flamengo não pode ter essa mentalidade de time pequeno. Ainda assim, a demissão não deve acontecer. Primeiro pelo mérito de ter levado um time não tão bom ano passado para a Libertadores e ainda brigando por título. Segundo porque nenhum técnico no mercado pode fazer um trabalho melhor no Brasileirão e Copa do Brasil do que quem já conhece tão bem o elenco e fez tantos bons jogos.

  Zé ainda está no começo da carreira, e essa eliminação vai ser de grande aprendizado. Jogando dessa forma fora de casa, ela aconteceria mais cedo ou mais tarde. Para a nação rubro negra é triste, muito dolorida, mas pode ser de aprendizado para o comandante. Brasileirão e Copa do Brasil ainda estão aí, o elenco ainda é um dos melhores do país e, corrigindo os erros, tem tudo para conquistar um título importante esse ano.

  Para terminar, gostaria de ressaltar mais uma coisa. Essa ideia dos brasileiros de que Libertadores só se ganha na raça acaba atrapalhando os times. É lógico que é uma competição que exige garra, raça, vontade, mas também técnica. O Flamengo é mais time que San Lorenzo e Católica. Se tivesse acreditado nisso, ganharia ou pelo menos empataria com eles mesmo fora de casa. A equipe carioca fez 21 faltas, chegou duro em todas as divididas, enquanto o argentino San Lorenzo fez 6, mas com a bola nos pés esqueceu o futebol em casa, literalmente.



Pedro Werneck Brandão

  

quarta-feira, 10 de maio de 2017

O caso Eduardo Baptista, mais um entre tantos

Imagem retirada do site esportes.r7.com
  

  O Palmeiras terminou 2016 em alta. Campeão brasileiro com sobras e apresentando ótimo futebol. O final do ano, porém, terminou com uma notícia nem tão feliz. Apesar de já especulada, a diretoria teve a confirmação de que Cuca não continuaria no comando palmeirense. A história foi muito mal contada, alguns disseram que ele trabalharia na China, outros que resolveria problemas pessoais e outros que iria fazer um curso na Europa. 

  Ainda em dezembro do ano passado, Eduardo Baptista foi anunciado como substituto de Cuca. É lógico que a missão seria muito difícil e ele sempre teria a sombra de seu antecedente. A pressão é gigante também porque o Palmeiras é o time brasileiro que tem investido mais pesado no mercado da bola e não pode-se esperar menos do que títulos. 

  Vale ressaltar que a escolha de Eduardo foi um tanto controvérsia. Ele fez um grande trabalho pelo Sport, de 2014 até o fim de 2015, aonde deixou o clube pernambucano para acertar com o Fluminense. Em seu primeiro trabalho em um time grande, não se saiu bem e durou um pouco mais de 6 meses. Logo depois acertou com a Ponte Preta, aonde teve ótima passagem.

  A conclusão é que ele foi muito bem em times pequenos, mas não aproveitou a oportunidade que teve em um grande. Não acho que a questão fosse não ter peso para treinar um time de alto escalão, até porque também tem muita pressão no Sport e na Ponte, mas sim que sua filosofia de jogo não se alinha com a de quem quer brigar lá em cima. 

  E se tem um clube que realmente tem que brigar lá em cima atualmente é o Palmeiras. Com um elenco recheado de ótimos jogadores, é esperado o melhor futebol possível. Futebol esse que Cuca conseguiu que o Verdão jogasse. A questão é que a filosofia de jogo de Eduardo é bem diferente. A grande pergunta é: por que ele foi contratado?

  Vida que segue, o treinador assumiu o clube e foi fazendo seu trabalho. No paulista, passou de fase com a melhor campanha (8V, 1E e 3D), porém sem apresentar um futebol tão bom e com algumas escolhas questionáveis (barrar o volante Tchê Tchê, por exemplo). O time acabou eliminado pela Ponte Preta na semifinal. Pela Libertadores, jogou 5 dos 6 jogos da primeira fase, o último deles derrota para o Jorge Wilstermann, jogo anterior a sua demissão. Faltando apenas um jogo em casa, o Palmeiras lidera o grupo com 10 pontos.

  O trabalho de Eduardo até o momento era maravilhoso? Não, mas também estava longe de ser ruim. O time ia conseguindo o principal objetivo: passar em primeiro na Libertadores. Mas um fator foi determinante para essa demissão, e não teve a ver com o desempenho do treinador. O jornalista Jorge Nicola havia anunciado na semana anterior ao acontecimento que Cuca estaria disposto a voltar a trabalhar. E dois dias depois de Baptista sair, o treinador campeão brasileiro teve seu retorno confirmado.

   Tenho algumas questões para levantar a partir disso. A primeira é que claramente a diretoria palmeirense se arrependeu da contratação de Eduardo. E como eu disse lá em cima, haviam muitos motivos para não efetuá-la. Então repito: por que contratou então? E isso é provado pelo fato de que mesmo ele não fazendo um trabalho ruim foi demitido.

  E não foi a primeira e nem a última vez que isso aconteceu no futebol brasileiro. Ano passo, por exemplo, o Inter contratou Falcão como técnico no decorrer do campeonato e o despediu depois de apenas cinco jogos. Oswaldo de Oliveira assumiu o Corinthians no final do ano, teve um aproveitamento melhor do que o time no resto do campeonato, mas mesmo assim não resistiu no cargo. E isso não é desvantagem apenas para o treinador. No caso de Oswaldo, a diretoria corintiana teve que pagar uma cláusula de rescisão de R$1 milhão para poder demiti-lo.

  A segunda questão é o quanto a diretoria palmeirense sabia da situação de Cuca. Não tem como não pensar que talvez eles já soubessem que no meio do ano o treinador estaria novamente disponível e colocaram Eduardo com a seguinte ideia: "Se for perfeito, fica, se não, já chamamos o Cuca no meio do ano". E se foi esse o caso, por que não deixou o auxiliar Alberto Valentim, que já havia sido cogitado, e teria um salário bem menor.

  A terceira é sobre o quanto a cultura do futebol brasileiro é resultadista. O jogo não se resume a perder ou ganhar. Se as diretorias do nosso país fossem mais inteligentes entenderiam que um time jogando bem, mesmo que com resultados ruins, tem um grande potencial de melhora. Enquanto times jogando muito mal, mesmo que estejam conseguindo resultados, tem tudo para cair de produção alguma hora.

  Sabendo disso, fico refletindo o que a diretoria palmeirense teria feito se Eduardo tivesse ganhado o jogo da Libertadores contra o Jorge Wilstermann. Isso porque o Porco ficaria com 13 pontos e o segundo colocado com 7, ou seja, garantiria a primeira posição do grupo. Será que teriam coragem de demiti-lo mesmo assim? E qual justificativa dariam? Aguardariam a primeira derrota para despedi-lo? 

  É importante eu dizer que treinador por treinador prefiro o Cuca mil vezes. Mesmo assim, acho que a maneira que trataram Eduardo foi muito injusta. E, indo mais longe, quero saber como reagirá a direção e a própria torcida, que está convicta de que o retorno de Cuca significará sucesso, se o Palmeiras for eliminado já nas oitavas da Libertadores.

  O fato é que a maneira que as diretorias lidam com os técnicos no Brasil deve ser repensada. Elas devem parar de tomar decisões imediatistas sem ter certeza absoluta e também saber que todo técnico precisa de sequência para firmar o seu trabalho. 

  Essa semana, a CBF organizou um evento chamado "Somos Futebol" em que técnicos e jornalistas palestraram sobre o futebol. Entre as figuras, estavam Tite, Marcelo Bielsa (técnico argentino) e Fábio Capello (técnico italiano). Nesse evento, o técnico brasileiro falou algo que tem bastante relação com esse texto e deixo aqui para encerrá-lo: "Gostaria de viver no país que o técnico até ganhasse menos, mas que tivesse mais estabilidade. Ficamos em média três meses. Na Inglaterra, a média é 16 meses, segundo um livro que eu li. Não queremos superexposição, aparecer demais, queremos trabalhar mais."



Pedro Werneck Brandão 

  

  

sábado, 6 de maio de 2017

Felipe Melo, "o pitbull"

Imagem retirada do site "UOL Esporte"


  A volta de Felipe Melo ao Brasil teve uma enorme repercussão. Vários fatores motivaram tanto alarde: o fato de ser um grande jogador, a disputa entre vários clubes pela sua contratação, a demonstração da força do Palmeiras e, principalmente, suas atitudes fora de campo.

  O jogador sempre foi muito polêmico. Dentro de campo, ótimo jogador, raçudo (até demais). E esse "excesso de vontade" proporcionou lances nada agradáveis ao adversário, incluindo algumas entradas violentíssimas. 

  Em 2010, Felipe jogava pela Juventus e era titular absoluto da seleção de Dunga. O jogador tinha características muito admiradas pelo treinador (incluindo a agressividade) e era simplesmente inquestionável. Com certa segurança, a seleção chegou às quartas de final, onde enfrentaria a Holanda. O volante falhou no primeiro gol e, depois de sofrer a virada, perdeu a cabeça, pisou em Robben de forma muito violenta e levou o cartão vermelho. Para piorar, disse após o jogo que o árbitro havia exagerado.

  Mais do que nunca, a agressividade de Melo passou a ser fortemente criticada na imprensa. A eliminação foi jogada em cima dele, talvez até injustamente. Por um bom tempo, uma possível volta dele à seleção era totalmente descartada. 

  Mesmo assim, Felipe continuou sua carreira de cabeça erguida, foi para a Turquia, mas nunca fez com que fosse possível a saída do seu nome da mídia. Através das redes sociais, mostrava sua torcida para o Flamengo, provocava jornalistas e outros jogadores, sendo sempre figura constante nos noticiários.

  Seus atos violentos também nunca desapareceram dos jornais esportivos. Em 2013, no clássico entre o Galatasaray e Fenerbahce (dérbi turco repleto de casos de violência e ódio entre as torcidas), ele foi expulso após entrada duríssima e na saída mostrou a camisa do time à torcida rival. O resultado? Ela invadiu o campo atrás do jogador. É lógico que a reação foi completamente desnecessária, mas, sabendo do histórico desse jogo, a provocação do brasileiro também. Segue o vídeo do caso: https://www.youtube.com/watch?v=fSh64tjL7mc. Em 2015, jogando pela Inter de Milão, Felipe conseguiu chocar a imprensa do duríssimo futebol italiano após solada no ombro de Biglia, da Lazio. Veja o lance: https://www.youtube.com/watch?v=bOzs4YWrxVs.

  Os casos são muitos. Desde o ano passado, o nome do volante passou a ser vinculado a clubes brasileiros, principalmente o Flamengo e o São Paulo, com isso, seu nome passou a circular mais ainda entre os jornais. No começo desse ano, o endinheirado Palmeiras surpreendeu a todos e acertou com o jogador. A contratação foi vista como excepcional e ele veio a peso de ouro.

  Em 2010, a imagem de Felipe havia passado a ser deteriorada pela mídia, certo? Acontece que esses 7 anos mudaram tudo. A chegada do jogador ao Brasil foi vista como espetacular e uma das maiores do futebol brasileiro nos últimos anos. Violento, agressivo e outros adjetivos foram deixados de lado, trocados por "pitbull" e raçudo, por exemplo.

  Isso tudo botou a moral de um cara que já fala o que quer lá em cima. Resultado? Toda vez que abre a boca solta uma polêmica. Em janeiro, por exemplo, disse, em relação ao pisão de 2010: "Óbvio que não vou fazer de novo, mas há dez anos atrás, se tivesse que voltar no tempo, eu faria de novo".

  E chegou num ponto que qualquer coisa que ele fizesse virava notícia. Durante jogo do campeonato paulista, ele evitou um balão e vibrou enfaticamente na cara do adversário. Os fãs do jogador acharam o gesto fantástico: "mito", "isso sim é jogador de verdade".

  Esse tipo de atitude de Felipe não acontece só contra os adversários não. Semana retrasada, durante treino, ele se estressou com o garoto Roger Guedes e gritou para ele: "Me respeita, porra. Você é moleque, porra". Não preciso nem dizer o quanto foi elogiado por isso.

  Entre muitas e muitas, a frase mais repercutida do jogador palmeirense foi ainda em janeiro quando disse "Se tiver que dar tapa na cara de uruguaio, vou dar". Na hora, já achei totalmente desnecessária, o jogador tentou se explicar falando que não queria dizer literalmente, mas acho que havia metáforas melhores para serem usadas, né? Na rodada retrasada da Libertadores, a frase voltou a ser muito repercutida. Jogando contra o Peñarol, no Uruguai, os uruguaios partiram pra cima dos brasileiros, principalmente buscando o próprio Felipe. Assim como disse no caso do clássico turco, essa reação foi pior ainda e totalmente desnecessária, mas poderia ter sido evitada não fosse a frase do "Pitbull".

  Todo mundo que acompanha futebol sabe que um dos temas mais recorrentes nos programas futebolísticos é a violência dentro dele. Em qualquer tipo de confusão, as torcidas são condenadas, mas os jornalistas simplesmente esquecem do fato de que muitas vezes o que acontece dentro de campo as motiva. As atitudes de Felipe são prova clara disso. Mas o engraçado é que os que criticam tanto a violência no futebol ajudam a alimentar a imagem do jogador de "Pitbull". 

  Os defensores do "futebol raiz" reforçam nas redes sociais o tempo inteiro que Felipe Melo é um mito. Dizem que ele é o oposto da "geração mimimi", o anti-futebol moderno. Bom, se o futebol moderno é o que evita brigas dentro e fora de campo, lances que botam em risco a integridade física do jogador, etc., que assim seja. 

  Essa imagem de cara agressivo, chamado de mito nas redes sociais, que fala o que quer e combate a tal "geração mimimi" me lembra muito a de um outro cara. Termino então deixando um vídeo aqui, para mim, um tanto representativo: https://www.youtube.com/watch?v=QuuFlQPC6ys,



Pedro Werneck Brandão