quarta-feira, 10 de maio de 2017

O caso Eduardo Baptista, mais um entre tantos

Imagem retirada do site esportes.r7.com
  

  O Palmeiras terminou 2016 em alta. Campeão brasileiro com sobras e apresentando ótimo futebol. O final do ano, porém, terminou com uma notícia nem tão feliz. Apesar de já especulada, a diretoria teve a confirmação de que Cuca não continuaria no comando palmeirense. A história foi muito mal contada, alguns disseram que ele trabalharia na China, outros que resolveria problemas pessoais e outros que iria fazer um curso na Europa. 

  Ainda em dezembro do ano passado, Eduardo Baptista foi anunciado como substituto de Cuca. É lógico que a missão seria muito difícil e ele sempre teria a sombra de seu antecedente. A pressão é gigante também porque o Palmeiras é o time brasileiro que tem investido mais pesado no mercado da bola e não pode-se esperar menos do que títulos. 

  Vale ressaltar que a escolha de Eduardo foi um tanto controvérsia. Ele fez um grande trabalho pelo Sport, de 2014 até o fim de 2015, aonde deixou o clube pernambucano para acertar com o Fluminense. Em seu primeiro trabalho em um time grande, não se saiu bem e durou um pouco mais de 6 meses. Logo depois acertou com a Ponte Preta, aonde teve ótima passagem.

  A conclusão é que ele foi muito bem em times pequenos, mas não aproveitou a oportunidade que teve em um grande. Não acho que a questão fosse não ter peso para treinar um time de alto escalão, até porque também tem muita pressão no Sport e na Ponte, mas sim que sua filosofia de jogo não se alinha com a de quem quer brigar lá em cima. 

  E se tem um clube que realmente tem que brigar lá em cima atualmente é o Palmeiras. Com um elenco recheado de ótimos jogadores, é esperado o melhor futebol possível. Futebol esse que Cuca conseguiu que o Verdão jogasse. A questão é que a filosofia de jogo de Eduardo é bem diferente. A grande pergunta é: por que ele foi contratado?

  Vida que segue, o treinador assumiu o clube e foi fazendo seu trabalho. No paulista, passou de fase com a melhor campanha (8V, 1E e 3D), porém sem apresentar um futebol tão bom e com algumas escolhas questionáveis (barrar o volante Tchê Tchê, por exemplo). O time acabou eliminado pela Ponte Preta na semifinal. Pela Libertadores, jogou 5 dos 6 jogos da primeira fase, o último deles derrota para o Jorge Wilstermann, jogo anterior a sua demissão. Faltando apenas um jogo em casa, o Palmeiras lidera o grupo com 10 pontos.

  O trabalho de Eduardo até o momento era maravilhoso? Não, mas também estava longe de ser ruim. O time ia conseguindo o principal objetivo: passar em primeiro na Libertadores. Mas um fator foi determinante para essa demissão, e não teve a ver com o desempenho do treinador. O jornalista Jorge Nicola havia anunciado na semana anterior ao acontecimento que Cuca estaria disposto a voltar a trabalhar. E dois dias depois de Baptista sair, o treinador campeão brasileiro teve seu retorno confirmado.

   Tenho algumas questões para levantar a partir disso. A primeira é que claramente a diretoria palmeirense se arrependeu da contratação de Eduardo. E como eu disse lá em cima, haviam muitos motivos para não efetuá-la. Então repito: por que contratou então? E isso é provado pelo fato de que mesmo ele não fazendo um trabalho ruim foi demitido.

  E não foi a primeira e nem a última vez que isso aconteceu no futebol brasileiro. Ano passo, por exemplo, o Inter contratou Falcão como técnico no decorrer do campeonato e o despediu depois de apenas cinco jogos. Oswaldo de Oliveira assumiu o Corinthians no final do ano, teve um aproveitamento melhor do que o time no resto do campeonato, mas mesmo assim não resistiu no cargo. E isso não é desvantagem apenas para o treinador. No caso de Oswaldo, a diretoria corintiana teve que pagar uma cláusula de rescisão de R$1 milhão para poder demiti-lo.

  A segunda questão é o quanto a diretoria palmeirense sabia da situação de Cuca. Não tem como não pensar que talvez eles já soubessem que no meio do ano o treinador estaria novamente disponível e colocaram Eduardo com a seguinte ideia: "Se for perfeito, fica, se não, já chamamos o Cuca no meio do ano". E se foi esse o caso, por que não deixou o auxiliar Alberto Valentim, que já havia sido cogitado, e teria um salário bem menor.

  A terceira é sobre o quanto a cultura do futebol brasileiro é resultadista. O jogo não se resume a perder ou ganhar. Se as diretorias do nosso país fossem mais inteligentes entenderiam que um time jogando bem, mesmo que com resultados ruins, tem um grande potencial de melhora. Enquanto times jogando muito mal, mesmo que estejam conseguindo resultados, tem tudo para cair de produção alguma hora.

  Sabendo disso, fico refletindo o que a diretoria palmeirense teria feito se Eduardo tivesse ganhado o jogo da Libertadores contra o Jorge Wilstermann. Isso porque o Porco ficaria com 13 pontos e o segundo colocado com 7, ou seja, garantiria a primeira posição do grupo. Será que teriam coragem de demiti-lo mesmo assim? E qual justificativa dariam? Aguardariam a primeira derrota para despedi-lo? 

  É importante eu dizer que treinador por treinador prefiro o Cuca mil vezes. Mesmo assim, acho que a maneira que trataram Eduardo foi muito injusta. E, indo mais longe, quero saber como reagirá a direção e a própria torcida, que está convicta de que o retorno de Cuca significará sucesso, se o Palmeiras for eliminado já nas oitavas da Libertadores.

  O fato é que a maneira que as diretorias lidam com os técnicos no Brasil deve ser repensada. Elas devem parar de tomar decisões imediatistas sem ter certeza absoluta e também saber que todo técnico precisa de sequência para firmar o seu trabalho. 

  Essa semana, a CBF organizou um evento chamado "Somos Futebol" em que técnicos e jornalistas palestraram sobre o futebol. Entre as figuras, estavam Tite, Marcelo Bielsa (técnico argentino) e Fábio Capello (técnico italiano). Nesse evento, o técnico brasileiro falou algo que tem bastante relação com esse texto e deixo aqui para encerrá-lo: "Gostaria de viver no país que o técnico até ganhasse menos, mas que tivesse mais estabilidade. Ficamos em média três meses. Na Inglaterra, a média é 16 meses, segundo um livro que eu li. Não queremos superexposição, aparecer demais, queremos trabalhar mais."



Pedro Werneck Brandão 

  

  

3 comentários:

  1. Em time menor é mais de boa ter uma liberdade e poder fazer um bom trabalho... sem a pressão de dirigentes e de jogadores com nome...

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    1. Mas quando falei disso ali é pq o Eduardo Baptista joga com o time mais defensivo e tal, o q dá certo pro Sport e pra Ponte terminarem na parte de cima da tabela, mas não pro Flu ou Palmeiras serem campeões.

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