quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Desvendando a final da Copa do Brasil

  Desculpem a ausência nos últimos meses, hoje resolvi retomar esse blog. Ontem houve o jogo entre Grêmio e Atlético MG pela final da Copa do Brasil, e o assunto não poderia ser outro. Título justíssimo para o time gaúcho, que jogou muito mais nos dois jogos.

  Meu palpite quando foi decidida que essa seria a final era que o Galo ganharia, pois, time por time, é superior. O problema é que os mineiros mostraram uma imensa desorganização que acarretou na demissão do Marcelo Oliveira após o primeiro jogo. 

  O Atlético sofreu com muitas lesões ao longo de todo campeonato brasileiro e Copa do Brasil. Por isso, fazendo um balanço final, a temporada de Marcelo levando o time a final da Copa e quarto lugar do campeonato não foi ruim, mesmo tendo em mãos, para muitos, o melhor time do Brasil. 

  O maior problema do Galo era que ele utilizava um 4-2-3-1 com muita poucas variações. Apesar de esse ser o esquema que eu mais gosto no futebol, ele necessita que os pontas sejam sempre muito criativos, pois a maior parte das jogadas são criadas por tabelas e triangulações que terminam em cruzamento ou jogada individual dos jogadores de lado. Por muito tempo, isso funcionou muito bem, principalmente com o Robinho pelo lado esquerdo. No melhor momento do time no campeonato, o apoio dos laterais também dava certo e os camisas 10 Cazares e, depois de suas lesões e afastamentos, Otero jogavam muito. O centroavante Fred sempre colocava pro gol. 

  Durante a temporada, Marcelo também testou jogar com Pratto e Fred, mas viu que não dava certo. Se durante todo o ano, o elenco inteiro estivesse a disposição do técnico o time seria mais regular, mas isso não aconteceu. E aí ficava claro que quando os destaques individuais não apareciam, o coletivo não funcionava. 

  Infelizmente para os atleticanos, esses problemas ficaram evidentes no primeiro jogo da final. O destaque individual de Robinho e Cazares não funcionou, a bola não chegava ao Pratto, e ele também não fazia muita questão de procurá-la. E como nenhuma jogada coletiva apareceu, o time perdeu por 3x1 em BH para o Grêmio, que também teve muitos méritos, dos quais falarei a seguir. Outra questão prejudicial foi que o campo pequeno do estádio Independência sempre favoreceu o futebol rápido do Galo, então não concordei com a decisão de jogarem no Mineirão.

  Depois da péssima exibição e resultado, Marcelo Oliveira foi demitido antes do segundo jogo, decisão que eu não concordo. É verdade que ele cometeu muitos erros, além da falta de jogo coletivo, ele colocou no banco um jogador fenomenal que é o Rafael Carioca. Outra questão foi colocar o Pratto apenas na Copa, deixando o Fred no campeonato, sendo que, na minha opinião, o argentino é muito melhor. Ainda assim, para mim, as chances de uma virada são muito mais plausíveis com um treinador que já conhece o time e viu o que deu certo e o que não deu durante o ano. 

  Então, para o segundo jogo Diogo Giacomini, auxiliar técnico, assumiu o time interinamente. Precisando reverter um 3x1, ou seja, ganhar por dois gols de diferença, em Porto Alegre, seria praticamente uma missão impossível, porém o Galo ficou famoso por ser o time das viradas nos últimos anos. A verdade é que se Diogo não conseguisse que o time revertesse o resultado no segundo jogo, a culpa não sobraria pra ele, já se conseguisse, seria visto como herói. Na minha visão, caminho aberto para ir com tudo pro segundo jogo, com um time bem ofensivo, mas ele fez o contrário. A opção de utilizar 3 volantes não fez menor sentido, na minha opinião. E, para mim, apesar do péssimo primeiro jogo, Cazares é o jogador mais criativo que o Galo tinha disponível na posição e deveria ter sido titular.

  O jogo em si acabou sendo controlado pelo Grêmio. Pelo menos no primeiro tempo, isso não aconteceu muito por mérito do time gaúcho, mas sim pelo desmérito dos mineiros. O Galo sem meia de ligação continuou sem criatividade, e de novo, Robinho não rendeu. O rápido Luan, o "menino maluquinho", voltando de sequências de lesões, também não fez nada pelo lado direito. No intervalo, ele abriu mão de um dos volantes para colocar Maicousuel, mas também não funcionou. Quando Cazares entrou aos 21, foi o melhor do time em campo, tentando criar algo, mas isso não foi suficiente. O Grêmio passou a propôr o jogo no segundo tempo, aos pedidos de "vamos jogar" de Renato Gaúcho, e com isso, Miller Bolaños, que havia acabado de entrar, fez um gol aos 43. Aos 46, Cazares viu Grohe adiantado e marcou um golaço-aço-aço do meio de campo, que pode valer o Puskas, mas em relação ao título, não valeu nada (aqui está o gol pra quem não viu ou também quem quiser rever https://www.youtube.com/watch?v=H69vZGj3NIc).

  Por parte do Grêmio, Roger Machado havia assumido um time sem estrelas do tricolor no começo de 2015 e vinha fazendo ótimo trabalho. Montou um time muito bom, com toque de bola e disciplina tática. Esse ano estava em oitavo no campeonato e com a classificação muito bem encaminhada para as semis da Copa, após vitória fora de casa nas quartas, quando resolveu se demitir. Até fez sentido, já que o time vivia má fase e muitos diziam que o trabalho dele estava desgastante.

  Então, Renato Gaúcho assumiu a equipe. Ídolo dos gremistas, ele soube motivar o time muito bem desde que chegou. E foi muito inteligente em aproveitar tudo que o técnico anterior tinha deixado de bom, ainda aperfeiçoando. No campeonato, o time só não subiu muito, pois usou time reserva em alguns jogos, devido à Copa do Brasil. Já nesta, a motivação de Renato levou o time à final e ao título.

  O time montado por ele usava um 4-4-2 com um losango no meio. Wallace, volante forte fisicamente e muito técnico, com potencial para jogar na Europa, a frente da zaga, depois mais adiantados Ramiro e Maicon, com o Douglas sendo o camisa 10. Maicon, além de capitão, regeu esse time como ninguém, distribuindo lindos passes. Ramiro, criticado anteriormente pela torcida, fez um papel essencial de meio campista "área-a-área", marcando muito bem e se infiltrando no ataque. Na frente, Pedro Rocha e Luan formavam um ataque muito veloz, comandando pelo segundo, que é, hoje, um dos melhores jogadores do Brasil.

  Dessa forma, Renato conseguiu formar um time ajeitadinho, não chegando a ser brilhante, mas fatal. Uma defesa muito sólida com a dupla de zaga formada pelo zagueirão Geromel e o famoso zagueiro rebatedor Kannerman. Os laterais Edilson e Marcelo Oliveira não comprometem, marcando bem e também chegando ao ataque. Longe de querer comparar a qualidade técnica, mas, apesar de um desenho tático bem diferente, é um time que me lembra o Atlético de Madrid, de Simeone. Defendendo com muitos jogadores, mas com o meio campo que mantém a posse de bola com qualidade quando precisa e um ataque veloz e fatal na hora de contra atacar.

  No primeiro jogo, o time se aproveitou da desorganização do Atlético e conseguiu roubar a bola com facilidade, alternando o toque de bola com a saída em velocidade. Por isso, Pedro Rocha fez dois gols, depois acabou sendo expulso, mas também perdeu chances claras. O principal destaque, para mim, foi Maicon, que colocou algumas bolas primorosas, e, apesar da passagem apagada no São Paulo, os torcedores paulistas devem sentir falta dele, com os volantes que seu time tem hoje. No final, para delírio dos gremistas, o zagueiro Geromel fez uma jogada de um verdadeiro ponta direito originando o terceiro gol, jogada essa que Robinho e Maicousuel deveriam ter feito durante todo o jogo.

  O segundo jogo foi o que expliquei anteriormente. No primeiro tempo, o Grêmio nem precisou se esforçar muito. No segundo, jogou muito melhor e jogou mais com a bola nos pés.

   Agora, o próprio Roger Machado que iniciou a trajetória do Grêmio treinará o Galo em 2017. Já vimos que ele sabe montar um bom time e, com o tão elogiado plantel do Atlético, a expectativa é de um ótimo trabalho. Já o Grêmio, com alguns reforços pontuais e mantendo as peças atuais também pode chegar longe, ao comando de Renato.

  Para terminar, uma pequena polêmica. Renato Gaúcho afirmou após o jogo que ele não precisa de curso e estágio na Europa, pois quem sabe de futebol não precisa disso. A verdade é que na Europa os tais cursos são obrigatórios para os treinadores das principais ligas, e olha a qualidade delas. Portaluppi mostrou que sabe muito de futebol, assim como muito brasileiros, mas isso não significa que é impossível aprimorar ainda mais esse conhecimento e aos poucos construir um campeonato mais forte.



Pedro Werneck  

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