No final da temporada 2014/2015 o pequeno Leicester lutava para não cair na Premier League. O time teve uma sequência de jogos contra times grandes e assisti todos eles. Em todas as ocasiões, conseguiu viradas ou empates milagrosos no final das partidas e fiquei impressionado com o espírito de luta da equipe. Além disso, comentei com meu pai e amigos: "Tem um tal de Mahrez que é canhotinho habilidoso e ainda muito eficiente nas bolas paradas, tem que ficar de olho. Também tem um tal de Vardy que corre o jogo todo e tem um faro de gol raro". Na temporada seguinte, todos puderam ver isso.
Depois de se livrar do rebaixamento veio a temporada 2015/2016 e eu quis continuar acompanhando o time de perto e a cada jogo eu me impressionava mais. Fui adicionando alguns nomes a lista de jogadores que me impressionaram, como os de Kanté, Schmeichel e Drinkwater. Mesmo assim, a cada rodada, eu e muitos outros falávamos "Uma hora esse time vai acabar tendo uma sequência ruim e indo parar no meio da tabela", depois "Eles vão acabar apenas se classificando pra Champions, não vai dar pro título". Mas deu.
Além de jogadores qualificados e um ano tão bom dos gigantes ingleses, os Foxs ganharam a Premier League por lutarem muito e todo jogo. Nunca havia assistido um time com tanta garra, a expressão "jogo perdido" não existia para eles. Taticamente falando, Ranieri montou um time num 4-4-2 em que os dois atacantes (Vardy e Okazaki) pressionavam muito lá na frente e o resto do time todo marcava muito. Quando o time tinha a bola, muitas vezes o esquema se transformava em um 4-2-3-1 com Okazaki fazendo um camisa 10.
O goleiro Schmeichel, filho do grande ídolo do United Peter Schmeichel, também goleiro, passava muita segurança. Fuchs era sinônimo de técnica e experiência na lateral esquerda. A dupla de zaga era formada por Huth, um zagueiro rebatedor, e Morgan, zagueiro com muito vigor físico. Completando a defesa, Simpson era o ponto fraco do time, mas a falta de técnica era compensada pela vontade.
No meio de campo, Kanté fazia um meia "box-to-box", como falam na Ingaletrra, ou seja, um jogador que ataca e defende com a mesma intensidade. Não há jogador em que o adjetivo "incansável" se encaixe melhor. O outro meio campista mais recuado era Drinkwater, jogador com enorme facilidade em distribuir o jogo. Do lado esquerdo, Albrighton também era um dos mais raçudos da equipe. Já pelo lado direito, Mahrez era o grande craque do time e a descrição que usei na primeira vez em que o assisti se encaixa bem.
O ataque tinha Okazaki, que também não era um jogador maravilhoso, mas, além de muita vontade, tinha um papel importantíssimo pressionando na frente e alternando seu papel como segundo atacante ou meia armador. O outro grande jogador da equipe era o centroavante Vardy, muito veloz e com uma grande capacidade de finalização.
A única grande dificuldade do time na parte final do campeonato era que os times menores passaram a respeitá-lo muito e, fora de casa, se retrancavam, chamando o Leicester para comandar o jogo. O problema era que o time foi formado para contra atacar, mas a vontade fez com que os Foxes vencessem muitos desses jogos.
Na atual temporada, o objetivo do técnico Ranieri foi manter a base do time e também essa vontade. Acho que com o dinheiro da primeira colocação no campeonato e da venda de Kanté, talvez pudesse ter contratado mais e pensado ainda mais alto, até para o mesmo não ter que dizer que o objetivo de 2016/2017 seria evitar o rebaixamento.
As mudanças para esse ano foram a venda de Kanté para o Chelsea e a chegada de Mendy, cujas características são muito semelhantes, mas a qualidade nem tanto. Além disso, o ótimo atacante Slimani passou a ser titular no lugar de Okazaki, mas aí já há uma grande mudança de estilo de jogo, já que o recém chegado argelino é um centroavante matador.
Apesar da péssima colocação no campeonato inglês, a classificação em primeiro na fase de grupos da Champions League mostrou que o time manteve a raça. Mas foi hoje que o Leicester conseguiu ter uma partida digna da temporada do título, o time aplicou 4x2 no Manchester City, de Pep Guardiola. Fico, portanto, na expectativa de que o time volte a apresentar aquele futebol que fez bem, muito bem, para os amantes do esporte.
Pedro Werneck
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